O homem-burro

A ambulância dos bombeiros invade barulhenta e sem cerimônia um conhecido shopping da cidade. Na praça de alimentação sangue por todo lado. Forçando a fita de contenção, colocada às pressas pela polícia, uma pequena multidão se faz curiosa.

Sim, é sangue mesmo. Não é mertiolate.

Espalhadas pelo chão, três pessoas alvejadas após o desentendimento entre dois marmanjos. O motivo não poderia ser outro se não a mistura certa de mulher errada com chope. Trazidos para o hospital, apenas dois sobreviveram. O terceiro – justamente o suposto desafeto – teve uma perfuração trágica de abdome, indo a óbito por choque hipovolêmico, que é o colapso sofrido pela grande perda de sangue.

Se você acompanha a Tribuna, já deve ter percebido que virou moda dar tiros em shoppings. Talvez um dos últimos lugares civilizados, agora virou alvo de ataques terroristas.

O Brasil cultiva um tipo curioso de terrorismo. Aqui não se espalha o terror por motivos políticos, religiosos ou por disputas territoriais.

Aqui não tem essa bobagem de homem-bomba.

Nosso negócio é homem-burro mesmo. Daqueles que frequentam armados locais públicos sem o menor equilíbrio psicológico, colocando todos em risco por motivos como futebol, brigas fúteis, dinheiro alheio, ciúmes de mulher e, claro, por bebedeira.

Sei que o assunto desarmamento é perda de tempo, há muito tempo.

O acesso a armas de fogo é simples, tanto pelas vias legais quanto paralelas. Do mesmo modo, a obtenção do porte não chega a ser um desafio intelectual. Basta observar muitos dos profissionais da segurança pública que – quando sacam suas pistolas – espalham por aí todo tipo de desgraça.

Só fico imaginando como conter todo esse terrorismo desenfreado. Portas com detectores de metal? Coletes à prova de balas para os usuários do shopping?

Nada disso. Aqui é Brasil, lembra?

Somos um povo pacífico e gentil.

Mas, na dúvida, talvez seja melhor nos trancarmos em casa.