O chilique

É hoje que você vai ter um chilique?

Poucos sabem, mas muito do que se atende em hospitais e consultórios está relacionado com saúde mental. Mais precisamente com a falta de saúde mental.

Em poucas palavras, se a sua cachola não vai bem, é quase certo que todo o resto também não irá. Simples e maluco assim.

Dias atrás, uma ambulância do Samu atendeu a um chamado intrigante. Em pleno rush, uma mulher entrou em luta corporal em meio ao trânsito doentio da cidade.

Adivinhe com quem ela resolveu sair no soco?

Com a voz do GPS de seu automóvel.

Vinda de Araucária para uma entrevista de emprego em Curitiba, Suzana optou por vir de carro, já que a integração de ônibus virou uma piada de mau gosto. Ao chegar na região do Centro, acabou se enfiando em um congestionamento daqueles, numa região pouco conhecida por ela. Atrasada, nervosa… de repente a voz enfadonha lhe mandava para a direita. Apavorada, ansiosa… de repente a voz ordenava que fosse para a esquerda.

Quando se deu conta, havia perdido tanto a paciência, quanto a entrevista, quanto a sua localização no mapa e no mundo.

Num rompante de fúria, Suzana passou a berrar com a moça do GPS. Em pouco tempo havia destruído, na base da pancada e pontapés, não só o aparelho como parte do painel de seu carro. O colapso nervoso atravancou a avenida e só cessaria com a chegada do médico, com sua maleta mágica repleta de sedativos.

Brincadeiras à parte, Suzana não é nenhuma esquizofrênica psicótica.

A verdade é que estes surtos estão virando moda. Sem exagero, fazia tempo que o pessoal da psiquiatria não corria tanto pelos corredores aqui do hospital. Depressão, desespero, descontrole… teriam as pessoas começado a perceber o tamanho da crise em que estamos mergulhando? Mais que isso, teriam os políticos e “administradores” públicos exagerado na vontade de afundar seu próprio país?

Tenho até medo de imaginar e, do nada, ter um chilique.