O beliscão

Uma centena de pessoas se acotovelava na recepção do pronto-atendimento. Muitas passando mal e outras tantas passando para trás seus patrões, inventando queixas mirabolantes em troca de um bom atestado médico.

Em certo momento, um dos seguranças do hospital me chamou a atenção para um bebê desesperado, gritando no colo da mãe.

De início não entendi o que acontecia. O vigia pediu, então, para que eu observasse o jeito da mãe.
Caro leitor, a mulher discretamente beliscava a criança, torcendo de tempo em tempo a sua perninha. Precisei respirar bem fundo para não dar uma tesoura voadora naquela diaba.

Difícil acreditar, mas existe até um nome técnico e pomposo para esse tipo de agressão. Síndrome de Munchausen.

Trata-se de um transtorno mental curioso, no qual a pessoa simula moléstias ou provoca ferimentos em si ou nos próprios filhos. A síndrome lembra um pouco a hipocondria, mas com o agravante de que a pessoa afetada é capaz de aberrações drásticas, como injetar substâncias estranhas em seu próprio corpo, ou então envenenar intencionalmente suas crianças.

Não se sabe ao certo o que motiva tal desequilíbrio. Carência afetiva, fragilidade social, necessidade de compaixão… o fato é que são pacientes que fazem dos serviços de saúde uma espécie de palco particular.

O diagnóstico de tal síndrome não é fácil, mas uma coisa é certa. São pessoas que precisam ser tratadas e, se necessário, denunciadas.

Às vezes chego até a duvidar do que assisto por aqui.

Só mesmo um beliscão para acreditar.