Manhã de um sábado ensolarado no pronto-socorro. O pátio do hospital é um lugar maravilhoso para se esticar e realizar fotossíntese, no intervalo entre plantões. Aos poucos uma sirene chata vai se aproximando, trazendo consigo uma viatura da guarda municipal com um passageiro pra lá de inesperado.
Logo percebo algo de estranho no ar. Um cheiro forte de solvente invade todo o lugar. Quando a gaiola da viatura é aberta, deixo escapar um palavrão por entre os dentes…
Jimmy, um cliente antigo aqui do PS, resolveu aproveitar a madrugada para invadir e roubar uma loja de tintas no Xaxim. Em sua busca por algo de valor, acabou deparando-se com o seu maior sonho de consumo: uma lata gigante de cola de sapateiro.
Estava feita a festa. Antes de fugir da loja, Jimmy resolveu abrir a lata e inalar o produto. Dentro do delírio típico do produto, nosso ladrão de meia tigela acreditou estar no Planeta da Cola de Sapateiro e achou que seria uma boa ideia virar todo o latão de 14 quilos sobre a própria cabeça…
Agora imagine uma madrugada inteira viajando sob o efeito de uma cola secando e aderindo ao corpo. Quando os funcionários chegaram para abrir o estabelecimento, encontraram o rapaz literalmente grudado na prova do crime.
O resultado disso estava agora colado dentro da viatura.
Pois é, lá se foi o sossego do nosso plantão.
Vontade de torcer o seu pescoço, Jimmy.
Enquanto uma equipe se prepara para remover a cola do paciente, iniciamos o tratamento para regredir a toxicidade do produto. Jimmy apresenta uma dificuldade respiratória e um rebaixamento da consciência que preocupa, por isso instalamos oxigênio e hidratamos vigorosamente o paciente.
E não, para tirar aquela casca toda de cola não usamos uma ‘Wap’. Foi tudo removido na base da gaze com vaselina e soro fisiológico, em um processo que levou algo em torno de três horas. O cabelo foi a parte mais fácil, confesso. Raspar a cabeleira e deixar o Jimmy careca foi simplesmente o momento mágico do dia.
No final deu tudo certo e na segunda-feira o paciente voltou para a sua vida, sem eira nem beira.
Até a próxima, Jimmy!