Naquela madrugada ele morreria na hora. Chovia forte na estrada e, mesmo assim, ele acelerava com força o pedal do seu velho Vectra. Os faróis iluminaram uma placa de aviso, antes de uma curva perigosa que namorava faceira a beirada de um abismo.

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Nem preciso dizer que ele ignorou a placa, se perdeu na curva e encontrou aquela ribanceira, decolando no vazio de uns 30 metros.
Naquela noite, um caminhoneiro o “mataria na hora”. Testemunha ocular do acidente, ele encostaria seu caminhão pesado na curva, desceria afoito até o que sobrara do carro e ligaria assustado para o resgate:

– Opa, alô?! Olha, um cara acabou de se matar aqui no quilômetro 667! Sim, sim, morreu na hora!

Por sorte, o bombeiro ao telefone não levou a sério o comunicado de óbito, disparando de imediato para o local uma ambulância e um caminhão do resgate.

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Acredite, esse acidente aconteceu a uns dois réveillons atrás e o motorista estava tão morto, mas tão morto, que esta semana me assustei ao vê-lo tão vivo aqui na fisioterapia do hospital.

Nunca entendi bem essa expressão “morreu na hora”, mas imagino quantas pessoas tenham realmente morrido – ou ficado com sequelas graves – por um simples erro de avaliação. Na dúvida e na prática, prefiro sempre acreditar que a vítima está viva, mesmo que sem pulso, dependurada por um fiapo de vida.

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Neste final de ano, no qual nossas estradas serão palco de muitas “mortes na hora”, eu torço para que todos tenham a chance de uma nova vida.

Um ano novo com muita saúde.

Para todos nós.