Num largo sorriso ele entrou em meu consultório.

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Lá de cima dos seus 86 anos, seu Ramiro chegou saltitante para mais uma consulta anual. Por incrível que pareça, ele não faz uso de nenhum medicamento diário. Piadista, sempre que diz que toda sua vitalidade e saúde se devem ao “estica-velho”, se referindo aos aparelhos de ginástica existentes na pracinha perto de sua casa. Na verdade, seu Ramiro é um exemplo de como tocar a vida sem vícios ou excessos. Com sabedoria e alguma simplicidade.

Depois de solicitar seus exames de rotina, me despedi feliz e chamei o próximo paciente, seu Luís.
Foi nesse momento que fui surpreendido pelas coincidências sombrias da vida. Ao olhar em seu prontuário, percebi que a data de nascimento era justamente a mesma de seu Ramiro.
Contudo, a semelhança terminou logo por ali. Embora ambos fossem “modelo 1930”, seu Luís levou algum tempo para conseguir chegar ao consultório.

Pressão alta, colesterol alto, diabetes descompensada, pulmão tabagista, fígado gordo, coração recauchutado… para continuar “funcionando”, seu Luís precisa fazer uso diário de nove medicamentos.

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Quanta diferença entre os dois…

Enquanto um vive, o outro apenas sobrevive.

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Não é minha intenção julgar seu Luís. Para ser sincero, me identifico muito mais com ele do que com seu Ramiro. Por isso mesmo, lamento o modo como sucateamos nossa própria saúde, ignorando qualquer necessidade de manutenção ou revisão.

A estrada é difícil para todos.

Mas embarcados numa lata-velha, tudo é muito pior.