Naquela noite, Jeremias estava pro crime.
Com um rolo de fita isolante juntou dois controles remotos, de modo que aquilo ficasse parecido com algum tipo de pistola. Como estava bêbado, nem notou que seu canhão ficou muito mais parecido com um bumerangue.
Sim, naquela noite Jeremias roubaria um carro.
Tal qual um lobo selvagem, ele aproveitou a lua nova para dar seu cambote diante de um sobrado, atacando um rapaz que descia despreocupado de seu corsinha.
– Pelamordedeus! Leva o carro! Leva tudo! Só deixa eu pegar meu bebê! – gritou o rapaz, avistando o que parecia ser uma estranha pistola, toda torta.
Jeremias adorava a maneira como a sua ‘brutalidade’ apavorava as pessoas. Mesmo assim, com um aceno de cabeça, foi piedoso o suficiente para permitir que a vítima apanhasse seu bebê.
O rapaz deu a volta, abriu a porta de trás e apanhou um pesado taco de madeira. Nele, escritas com canivete, as palavras Meu Bebê.
Jeremias nem teve tempo de nada. Quando se deu conta, estava acordando dentro da ambulância de resgate.
No pronto-socorro, a tomografia revelaria uma cabeça rachada com a necessidade de uma prótese de calota craniana. Quem vai pagar a conta de quase 20 mil reais? Ora, eu e você, caro leitor.
Concordo que não seja fácil viver em uma cidade em que 30 veículos são furtados ou roubados, todo santo dia. Contudo, reagir a um assalto talvez seja a mesma coisa que admitir: ‘minha vida vale menos que um carro’.
Na dúvida, o melhor é não oferecer resistência.
Vai que a arma é de verdade? E o ladrão também?
Olha só:
Entre furtos e roubos, a capital paranaense registra todos os dias o sumiço de 30 veículos. Em 2015, no mesmo período, a média era de 24 veículos ao dia. (Fonte: SESP-PR).