– Amor, eu estou morrendo…

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– Não, você não está! – gritou Gilson, apavorado por saber que sim, ela estava morrendo.
Maria foi a óbito sem atendimento médico numa UPA de Curitiba.

Nunca foi tão claro o desprezo pelo ser humano. Nunca ficou tão exposta a fragilidade do Protocolo de Manchester, que classifica os pacientes por cores.

Cada cor, um grau de prioridade de atendimento. Se você ganha uma pulseira vermelha, por exemplo, seu caso é emergência. Se recebe uma verde, leva um vale-cadeira de várias horas.
A escala de Manchester é um sucesso em outros países. Aqui chega a ser lamentável. Em parte pela falta de estrutura – ou boa vontade – dos profissionais da triagem.

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Embora o diagnóstico não seja o foco do Manchester, é evidente ser necessário algum conhecimento clínico. Sei do caso de uma pessoa com apendicite supurada, que recebeu etiqueta verde por apresentar ’apenas’ dor abdominal.

Sei de plantões em que todos eram triados com a mesma temperatura (36,5C) e isso incluía aqueles cuja queixa era… febre! E mais. Tem gente que ’mede’ a pressão arterial sem sequer usar um aparelho!

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Pois é. Além de jogar pacientes graves para o fim da fila, o protocolo mal usado também pode induzir ao erro médico.

Por fim, um apelo.

Só procure a UPA em casos graves. De cada cinco pacientes lá, quatro estão com tosse ou frieira.

Então, se você for um deles, procure um postinho.

Naquela noite, a UPA estava lotada. Muitos nem deveriam estar lá.
Maria deveria sim, mas acabou recebendo uma etiqueta verde.