Quarta-feira passada, a Polícia Militar chocou a todos com um gesto curioso de civilidade em pleno Centro Cívico.
Pouco importa se havia grupos político-radicais ou black bocs infiltrados.
Não precisava ter acabado assim.
Professores, jornalistas, deputados e até mesmo policiais… muitos foram marcados pelo emprego desproporcional de armas “não letais”.
Mais do que dispersar, o comando da polícia mandou muitos inocentes direto para o pronto-socorro. O que ficou foi a certeza de que quando tais dispositivos de “não letalidade” são usados com a sabedoria da maldade, o resultado pode ser repugnante.
O spray de pimenta, por exemplo, foi usado e abusado em larga escala, causando desespero e desorientação pela ardência intensa de olhos, garganta, nariz e pele. E mais. Instintivamente, a pessoa atingida logo procura lavar o rosto, o que potencializa a ação do gás. Maldade pura.
Já o gás lacrimogêneo, tão ou mais sufocante que o de pimenta, apresenta uma maldade adicional. Quando disparado, sua lata atinge altas temperaturas, o que provoca queimaduras graves nos que inventam de apanhar o artefato com as mãos.
A “não letalidade” também passa pelas bombas de efeito moral, que lesionam tímpanos e causam ferimentos pelo deslocamento brutal de ar. Qual a maldade? Atirar essas bombas o mais próximo das pessoas.
O mesmo vale para as balas de borracha, que deveriam ser disparadas apenas contra o solo, a uma distância “segura” da multidão. Na prática, as pessoas chegam ao hospital sangrando, com lesões que podem, sim, levar a óbito. A maldade aqui é que por fora as balas são de borracha. Por dentro, esferas de metal.
Outra maldade é o uso de cães, responsáveis por ataques mutilantes. Mais que isso, maldade mesmo é expor esses animais à estupidez humana.
Por fim, a ironia maior.
Acreditar que policiais e professores estavam de lados opostos.
Na verdade, ambos são vítimas do mesmo governo.
E da mesma maldade.