Não corra, não fume, não beba, não mate.

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Seja educado, use o bom senso, o cinto, a camisinha, não morra.

É ponto pacífico que campanhas educativas são importantes, não é mesmo?

Ninguém duvida da necessidade dessas campanhas, mas poucos questionam sua real eficácia e, principalmente, o valor estratosférico que elas costumam comer do dinheiro público.

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Hoje atendemos a uma paciente portadora do vírus HIV há nove anos, que nunca seguiu adequadamente a terapia antirretroviral, apresentando inúmeras recaídas e internações. Melhor que isso só o fato dela ter uma vida sexual hiperativa, não informar seus parceiros sobre sua condição de saúde e claro, preferir ter relações sem o uso de preservativos.

O que fazer com alguém que decide democratizar sua doença, espalhando seu vírus por toda a cidade? Ameaçar, multar, internar, processar, interditar, prender, isolar, matar?

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Quem dera.

Na verdade, o culpado dessa inconsequência talvez seja o livre arbítrio.

O que nos torna tão “especiais e distintos” também é o que nos faz tão destrutivos. Ao exercitar em plenitude a nossa liberdade de arbítrio, corremos o sério risco de colocar nossas vontades acima das dos outros, cultivando a diferença e o atrito entre as pessoas.

Então é o cara que não segue as leis de trânsito, o estuprador de crianças, o político corrupto, o marido violento, o pichador de prédios, o vizinho barulhento… todos fazem do livre arbítrio um trampolim para agredir ao próximo sem culpa.

Você acha que essas pessoas são atingidas por campanhas educativas? Infelizmente não. Ao que parece, elas sequer acreditam que estejam erradas.

Muito do que vemos no pronto-socorro é resultado dessa dificuldade teimosa em respeitar acordos básicos de convivência. Todos querem direitos, mas poucos se interessam pelos deveres.

A complexidade do ser humano torna tudo mais difícil e perturbador.

Incluindo esse meu plantão, que nunca acaba.

Próximo!