O velho ônibus segue vagaroso seu itinerário, enquanto os passageiros viajam atrasados, estressados e amarrotados.

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Existe certo consenso entre os administradores públicos de que o transporte coletivo é a solução para todo o caos de uma grande cidade. Pela lógica deles, quanto mais gente socada nos ônibus, menos carros nas ruas.

No meio do percurso uma gritaria lá no fundo chama a atenção de todos. Ao ser apalpada por um estranho, uma senhora faz um merecido barraco.

Quem pega condução já está acostumado a conviver com tarados, punguistas, torcedores de futebol “organizados” e toda uma corja que se impõe, fazendo valer o medo para silenciar as pessoas.

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Só que hoje foi diferente. Desta vez, os passageiros resolveram tomar as dores da mulher e provocar muitas dores no bolinador.

Caro leitor, o sujeito chegou moído aqui no pronto-socorro.

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Mandíbula deslocada, costelas trincadas, luxações, hematomas… o cara sequer sabia dizer o ano em que estamos.

Eu sei, é complicada essa história de fazer justiça com as mãos. Mas quando a polícia não funciona e as instituições públicas nos viram as costas, a quem devemos recorrer?

No caso das mulheres, muito se fala de direitos, mas pouco é divulgado sobre o desrespeito diário ao qual elas estão expostas. Em 2012, nosso país registrou mais de 50 mil casos de estupros. Isso significa algo em torno de seis mulheres violentadas por hora! E são caras como esse do ônibus que – no exercício de sua plena impunidade – uma hora ultrapassam os limites e cometem esse tipo de barbárie. Acredite, a cidade está repleta deles, esperando apenas pela oportunidade de atacar.

Aqui no hospital deixei há tempos de acreditar em leis vazias, aplicadas por uma justiça anêmica. Por isso, confesso que quando as ambulâncias chegam, prefiro mil vezes que elas tragam marginais linchados do que mulheres espancadas ou violentadas.

Infelizmente, a história ensina que em nosso país a justiça é cega, os criminosos surdos e nós todos mudos.

Olha só

Em 2012, o Paraná registrou 3523 estupros. Um aumento de quase 10% em relação a 2011 (ABSP – 2013).