Era quatro da manhã quando ele levantou num susto. Catou sua arma debaixo do travesseiro e correu pela casa, em busca de alguma porta para o jardim dos fundos.
O detalhe é que ele não estava em uma casa. Estava em seu apartamento no primeiro andar. Num pesadelo em que um criminoso lhe perseguia, atravessou em disparada a sacada, despencando de uma altura de uns quatro metros. No lugar de um gramado macio, acabou acordando todo estatelado numa calçada gelada, sólida e bastante real.
Ser sonâmbulo é mesmo um negócio perigoso.

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Mas o que despertou a atenção na sala de emergência não foi seu sonambulismo, tampouco suas pernas quebradas.

Caro leitor, nosso homem pássaro era um agente prisional.

Talvez, por si só, isso explique a origem de seus pesadelos.

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Vou folheando seu prontuário e me surpreendendo com a quantidade de medicamentos listados. Remédios para dormir, para acordar, para ansiedade, depressão, gastrite, constipação, pressão alta…

Todos os dias, esses trabalhadores são hermeticamente encarcerados para impedir que o pior da sociedade escape para as ruas.

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É uma tarefa quase impossível.

Nossos presídios e penitenciárias são buracos supostamente criados para modificar infratores. Na prática, modificam apenas para o mal.

Na ponta da lança está o carcereiro, exposto a um ambiente doentio, recheado de ódio, conflitos e ameaças.

Então, o agente penitenciário vive uma liberdade curiosa.

Ao contrário dos detentos, ele pode voltar para casa.

Mas isso não significa que ele saia do inferno.