Em nome do filho

Aquele soco na parede foi como um grito no silêncio.

Havia tanta fúria no golpe daquela mãe, que o reboco se partiu abafado, revelando as entranhas de tijolos do velho hospital.

Seu filho acabara de morrer em meio a mais uma cirurgia de emergência, por complicações de uma espécie traiçoeira de câncer, desses que simplesmente não toleram crianças de três anos.

E agora o chão faltava sob seus pés, deixando-a de joelhos na salinha de espera do centro cirúrgico. Em suas mãos, apenas um cobertorzinho de flanela, cuidadosamente dobrado.

Desgraça pouca é bobagem.

Dizem que Deus repousa em nossos ombros apenas o fardo que cada qual consegue suportar. Contudo, isso não parece valer para algumas mães.

Elas suportam muito mais.

Poucos sabem, mas um hospital pode ser a inóspita segunda casa para várias mães, que desistem de suas próprias vidas na esperança de vida de um filho adoecido.

Câncer, síndromes raras, doenças neurológicas, cardiopatias graves, malformações congênitas… Acidentados, queimados, politraumatizados… Os corredores da pediatria podem ser longos na peregrinação e na busca por um milagre que muitas vezes não acontece.

Semanas, meses, anos… cada dia de internamento é um exercício de paciência e de penitência para cada uma dessas mulheres.

No fim, tudo é uma espera sem fim. Dependendo da condição clínica da criança, não há tratamento tampouco cura. Apenas o processo arrastado de uma despedida que mastiga, aos poucos, o espírito de cada mãe.

Ontem foi o dia das mães. Na rotina gelada e barulhenta do hospital, nada mudou. As mães continuaram teimosamente ao lado de seus filhos, trazendo brinquedos, livros e algum conforto.
Mães são seres misteriosos que trazem à luz.

E que, por seus filhos, jamais aceitam a escuridão.