“Depois da bênção, o peito amassado. É hora do cerol, é hora do traçado.”

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O Rappa

Céu azul, tarde ensolarada de um sábado para esquecer.

Uma pequena multidão se acotovela em cochichos, querendo ver de perto a desgraça alheia. No asfalto escorrido em sangue, o corpo imóvel de um ciclista atingido pela mais traiçoeira das armadilhas. Na chegada da ambulância, apenas a constatação de que não havia mais nada a ser feito.

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Quando pipas, arraias, papagaios ou pandorgas têm suas linhas embebidas em uma mistura de pó de vidro com cola – o tal do cerol -, eles viram verdadeiras lâminas de bisturi voadoras. Jugular, carótida, tireoide, traqueia… o pescoço costuma ser alvo fácil, e a pessoa pode morrer de maneira desesperadora, em poucos minutos.

Motoqueiros, ciclistas, pedestres e até mesmo pássaros… ninguém está livre do perigo que vem nunca se sabe ao certo de onde, provocado por alguém que usualmente some na covardia do anonimato.

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Alguns tipos de cerol também incluem a limalha de metal. Não precisa ser brilhante para adivinhar que, quando atinge a rede elétrica, esse tipo de linha costuma provocar choques de milhares de volts, causando extensas queimaduras e até mesmo paradas cardiorrespiratórias.

Muitos dizem que o cerol é coisa de moleque. Que as “batalhas” aéreas entre pipas não passam de uma saudável brincadeira de meninos. É a balela de sempre, de pessoas que alimentam uma estúpida tradição que é passada geralmente de “adultos” para crianças.

Grande parte dos adeptos dessa ideia esdrúxula conhece os riscos e a maldade envolvidos por trás do cerol. Como sempre, leis vazias são criadas, burladas e esquecidas, como é de costume em nosso país.

Então, basta uma rápida procura na internet para conhecer receitas de cerol. Basta uma visita a lojas do gênero para encontrar linhas de cerol em carretéis de todas as cores.

Alguns dizem que já fomos mais inteligentes.

Mas eu te pergunto: será?