Armas e rosas

Criança é bicho danado.

A munição estava escondida num armário da cozinha, em uma caixinha de remédio. O revólver estava devidamente enrolado numa toalha de rosto, no alto do guarda-roupa do quarto de casal.

Mas meninos de sete anos são danados.

Enquanto a mãe aproveitava o sol para podar sua bela roseira, ele escalou o armário da cozinha, depois subiu no guarda-roupa e logo estava no tapete da sala, brincando com a arma já carregada.

O tiro fez com que a mãe se cortasse entre as rosas. Ao entrar em casa, em meio ao choro e cheiro de pólvora, ela se apavorou com a cena.

Ao empunhar o revólver com uma mão e segurar a boca do cano com a outra, o moleque acabou efetuando um disparo que arrancou metade de sua mãozinha esquerda. Havia desespero e sangue e lágrimas.

Até o final do dia de hoje, três a quatro crianças serão mortas no Brasil pelo poder de fogo de uma arma. Entre balas perdidas e ’encontradas’, sobra tiro para todos os lados. Apenas no Paraná, entre adultos e crianças, umas sete pessoas morrem todos os dias na base da ’bala’.

Polêmicas à parte sobre o desarmamento – ou não – de um país em plena guerra civil, a verdade é que o porte de um mecanismo tão letal exige bem mais do que responsabilidade.

Segundo alguns policiais, uma arma pode ser um imã para todo tipo de desgraça. Então cuidado, pois esse magnetismo é poderoso.

Nossas crianças que o digam.

Olha só: segundo o Mapa da Violência no Brasil de 2015, uma pessoa é baleada e morta a cada 12 minutos. Siamo tutti buona gente, né?