Você já ouviu falar em pacientes institucionalizados?

continua após a publicidade

Certa vez seu Alfredo foi pegar o ônibus e olha só, o ônibus foi quem o pegou. Trazido em estado grave para cá, ficou com tantas sequelas que a família o abandonou para sempre no hospital.

Isso é ser institucionalizado.

Simples assim.

continua após a publicidade

Ferroviário aposentado, há dois anos convivemos com suas animadas histórias, de uma época em que muito da vida era movido a vapor.

Contudo, nos últimos dias achei seu Alfredo deprimido. Com 87 anos, seu corpo parecia mais cansado do que o de costume. Como meu avô também havia trabalhado com trens, eu sempre dava um jeito de visitar seu Alfredo. Fiz isso noite passada, após meu plantão. Entrei no quarto, puxei a escadinha da cama e fui me sentando enquanto ele tirava sua máscara de oxigênio.

continua após a publicidade

– Faz a minha barba? – pediu ele, antes mesmo de poder lhe perguntar como havia passado o dia.

Acho que você não sabe, mas antes da medicina fui auxiliar de enfermagem, profissão que me ensinou o valor de ajudar as pessoas. Num salto, corri até o posto de enfermagem, peguei bacia, água quente e demais apetrechos.

Enquanto preparava um creme improvisado com sabonete, ele dava início a mais uma aventura do passado, na qual um vagão carregado de fogos de artifício ia pelos ares, apavorando a todos em União da Vitória.

Com cuidado e atenção, eu deslizava a lâmina sobre seu rosto.

No final, a história foi interrompida pelo silêncio de seu Alfredo. Seu olhar se perdeu num horizonte distante, conhecido apenas por ele.

– Por que minha filha nunca veio me visitar? – perguntou com os olhos molhados.

Coloquei o barbeador sobre a mesa e olhei sem graça para ele, sem sequer imaginar uma resposta.

Sem saber, aquela era a última vez que eu via seu Alfredo com vida. Pela manhã, a enfermagem o encontraria gelado em seu leito.

Ele precisava muito daquela resposta.

E até agora eu não sei o que dizer.

Triste por você, meu amigo.