Sem carne, talvez. Sem agro, nunca

Dia desses, uma amiga jornalista de longa data me fez uma provocação sobre o Dia Mundial do Veganismo (comemorado recentemente em 1ª de novembro). Essa sugestão (intimada) para diminuir o consumo de carne, mesmo ela sabendo da minha origem gaúcha e do meu histórico da necessidade de proteína em todas as refeições, ocorreu por conta de um projeto dela junto ao cliente Mercy for Animals. E me fez lembrar de um episódio também recente que mobilizou o agronegócio nacional.

Muitos leitores vão lembrar de uma campanha de uma marca de cerveja, veiculada no início deste ano, que propunha um “churrasco” sem carne (aqui, churrasco está entre aspas porque minha adoração por carne ainda não me permite considerar um evento destes sem a proteína) em apoio ao Dia Mundial Sem Carne. O ocorrido mobilizou diversas entidades do agro e produtores rurais dos quatro cantos do país que criticaram a campanha e, mais que isso, cancelaram (para usar o termo da moda) a marca de bebida.

Mas, precisamos esclarecer alguns pontos para os públicos urbano e rural. Dia Sem Carne, Dia do Veganismo ou datas similares não deixam de ser agro. Ao contrário! Valorizam segmentos dentro do setor que, muitas vezes, não estão na vitrine. Mas, mesmo assim, são consumidos em larga escala, principalmente pelas populações das cidades.

Por exemplo, um “churrasco” sem carne fomenta o consumo de hortifrútis como o pepino, a batata salsa, o repolho, a couve-flor, a rúcula, entre outros vegetais, que o Paraná ocupa as primeiras posições do ranking dos produtores nacionais. Inclusive, o chamado “Cinturão Verde” de Curitiba, composto por vários municípios da Região Metropolitana, é responsável pela produção de 70% do total de legumes do Paraná. Esses viajam milhares de quilômetros para abastecer centenas de cidades paranaenses e também de outros estados.

Vamos além. Mesmo sem aderir as datas, somos grandes consumidores, por exemplo, da soja e milho, apenas para citar os principais grãos produzidos no planeta. A soja está presente em alimentos que, arrisco dizer, você leitor nem imagina que consume, como bolacha recheada, chicletes, pão de forma, biscoito polvilho, entre outros. Da mesma forma, o milho faz parte da composição de bolos, salgadinhos, doces e uma infinidade de produtos.

Ou seja, mesmo um cardápio e/ou um “churrasco” sem a tradicional picanha, coxa de frango, bisteca de porco ou tilápia frita acabam por fomentar outros setores da agropecuária. Afinal, seja a proteína dos carnívoros ou os vegetais e grãos do veganos, os alimentos consumidos nos centros urbanos têm origem no meio rural.