Basta ligar a televisão ou o rádio em algum programa de jornalismo, folhear os jornais do dia ou navegar em sites de notícias para comprovar que o assunto do momento é a inflação acima dos 10%, conforme registrado em doze meses. Afinal, o aumento geral, sistemático e contínuo dos preços está no nosso dia a dia, corroendo severamente o poder aquisitivo da população. E, os motivos para a alta são, conforme apontam os números, alimentos, combustíveis e energia elétrica. Até aí, tudo certo, sem qualquer questionamento, pois “contra fatos, não há argumentos”. Mas, vale esclarecimentos.
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A inflação que impacta o cidadão urbano também tem desdobramentos no meio rural. Afinal, o produtor rural utiliza, em larga escala, energia elétrica, para manter aquecido os aviários e as granjas; combustíveis, para fazer funcionar o maquinário e realizar o plantio e/ou a colheita das lavouras; e os alimentos (ração) para os animais, sejam aves, suínos, peixes e gados de corte e leiteiro.
Então, a alta dos alimentos para nós que estamos na cidade não é, como alguns preferem apontar, culpa do produtor rural. Esse apenas faz parte da equação e está repassando o aumento do custo de produção dentro da porteira. Afinal, como em qualquer negócio, a agropecuária visa lucro. Ou seja, a remuneração tem que ser maior que o gasto.
Os números apontados pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) deixam ainda mais transparente essa situação de que a inflação ultrapassa os limites das cidades.
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O plantio e a colheita dos grãos em grande escala dependem das máquinas agrícolas como colheitadeiras, plantadeiras, tratores. Essas, como um automóvel urbano, exigem combustível, no caso o diesel. Ainda, esse mesmo é utilizado em geradores, acionados quando falta luz elétrica (algo comum em diversas regiões do Paraná), para garantir a ambiência e a temperatura dos pintainhos (trocando em miúdos, o filhote da galinha) 24 horas por dia. E, o diesel encareceu 32% em dois anos, saltando dos R$ 3,29 o litro em agosto de 2019 para R$ 4,36 no mesmo mês de 2021.
Da mesma forma, a ração balanceada com vitaminas e minerais, fornecida para a engorda, por exemplo, do frango de corte, deu um salto, no caso, de 75%, de R$ 2,02 o pacote de 1 quilo para R$ 3,54 nestes dois anos. Caro? Veja então os insumos utilizados nas lavouras.
Especificamente na agricultura, a situação, ou melhor, a inflação dentro da porteira é ainda mais crítica. A semente de soja, principal grão plantado no Paraná (e no Brasil), encareceu 103% em dois anos, de R$ 233,27 a saca de 50 quilos em agosto de 2019 para R$ 473,94 dois anos depois. O cenário é muito parecido nos fertilizantes, fundamentais para conservação dos nutrientes do solo. A tonelada de cloreto de potássio, fosfato e ureia teve variação de 87%, 105% e 104%, respetivamente, de agosto de 2019 para o mesmo mês deste ano. Trocando em miúdos, semente e fertilizantes, mesmo inflacionados, são primordiais para a safra.
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A inflação não é boa para ninguém, seja para quem está no campo ou na cidade. Mas, infelizmente, é uma realidade para todos. E, a solução, pelo visto, não passa pelos produtores rurais, que também sentem no bolso os impactos como os cidadãos urbanos. Ou seja, estamos todos no mesmo barco, em um mar com gigantescas ondas promovidas pela inflação desenfreada.