O feijão corre risco de extinção? Informe-se pra não falar (e compartilhar) bobagens

Na semana passada, navegando pelos sites que tenho o hábito de ler, me deparei com duas notícias (na verdade, a segunda repercussão da primeira) em importantes veículos de Comunicação que chamaram atenção. Mais que isso, me causaram, num primeiro momento, estranheza (para não dizer preocupação) em função do título e, posteriormente, do conteúdo.

De forma resumida, as matérias de colegas jornalistas apontavam, de forma até sensacionalista, que o feijão nosso de cada dia estava em extinção e que isso poderia ter relação com a fome (as palavras “extinção” e “fome” estão nos títulos das matérias).

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Peraí, alto lá. De cara posso garantir, ou melhor, o agronegócio brasileiro pode garantir para a população urbana que não vai faltar feijão, independentemente da cor, no PF (Prato Feito) de ninguém ou mesmo naquela feijoada de sábado. Mas, claro, para fazer essa afirmação é preciso fatos. Então, vamos a eles.

Mesmo com a pandemia do coronavírus, que imprimiu uma nova dinâmica ao consumo, principalmente nos primeiros meses do isolamento social (primeiro semestre de 2020), o mercado absorveu o apetite dos consumidores. Muitos de nós, diante das incertezas daquela época em que a doença ainda era desconhecida, estocamos o produto. E não faltou para ninguém!

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É verdade a afirmação dos nobres colegas de que a área de plantio tem diminuído ao passar dos anos. Mas a produção segue praticamente a mesma. Por que? Por conta da produtividade, que aumenta a cada safra em função de melhorias genéticas e tecnologia aliada a produção. Tudo isso garante aquele grão com caldo grosso para acompanhar o seu fiel escudeiro, o arroz.

Para citar apenas um exemplo deste avanço no meio rural, aqui no Paraná, maior produtor de feijão preto do Brasil com três safras anuais (329 dos 399 municípios do Estado têm produção do alimento), o Projeto Grãos Centro-Sul de Feijão e Milho, desenvolvido há 31 anos com ações voltadas para tecnologia de produção e boas práticas agrícolas, tem alcançado resultados notáveis, com aumentos consecutivos da produtividade. Sinal de que é possível produzir mais em uma área menor se comparado há uma, duas ou três décadas.

Ah, outro apontamento feito nos textos dos colegas é de que o feijão tem “perdido” área para soja. Isso é verdade. A commodity, em função da alta demanda mundial e da multifacetada (já escrevi em colunas anteriores que a soja é usada em alimentos como bolacha recheada, chicletes, pão de forma, entre outros), tem aparecido como primeira opção de milhões de produtores rurais em todos os cantos do Brasil na hora de planejar a safra.

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Mas, não podemos esquecer que a soja, além de entrar na composição dos alimentos mencionados acima, é usada para produzir outro alimento fundamental da população: a carne, seja de frango, boi, porco ou peixe (e por que não a da própria soja, se tratando de vegetarianos e veganos). Afinal, a oleaginosa é parte importante da composição da ração dos animais.

Segundo o historiador Felipe Pedroso, o feijão é possivelmente o alimento mais antigo cultivado pelo ser humano, com indícios de consumo pelos soldados de Troia. Então, caro leitor, siga despreocupado degustando do feijão do PF de cada dia. O grão preferido dos brasileiros não será extinto e nós, soldados das batalhas diárias, seguiremos consumindo o alimento tão saboroso e importante.

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