Na minha casa, há anos, é um hábito separar o lixo. A cozinha conta com dois recipientes: um para orgânico, outro para reciclável. No prédio onde moro, a separação vai além. Diferentes lixeiras espalhadas em vários pontos recebem orgânicos, papéis, latas, plásticos, pilhas, vidros, lâmpadas e outra infinidade de materiais. Esse hábito, que adquiri com meus pais, faz parte de um comportamento simples, mas com resultados significativos.
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No meio rural, separar as embalagens de sementes, insumos e agroquímicos também faz parte da rotina dos produtores rurais. Com o diferencial que, nestes casos, essa prática se faz ainda mais necessária, já que muitos recipientes podem ter resquícios de produtos que fazem mal a saúde humana e ao meio ambiente.
Essa logística reversa no campo está tão enraizada que 94% das embalagens plásticas primárias comercializadas no Brasil recebem a destinação de forma correta após o uso. Em 2002, 3,7 mil toneladas de embalagens foram recicladas. No ano passado, a quantidade bateu em 53,8 mil toneladas (aumento de 1.350% em 20 anos). Nestas últimas duas décadas, desde o início do programa Sistema Campo Limpo, de logística reversa de embalagens vazias de defensivos agrícolas, mais de 668,4 mil toneladas foram recolhidas em mais de 400 unidades de recebimento localizadas em todos estados e no Distrito Federal. Claro, para se chegar neste percentual foi necessário muito trabalho de educação e estratégias de convencimento.
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Enquanto o campo tem demonstrado eficiência na coleta de lixo reciclável, o meio urbano deixa a desejar. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), o país recicla apenas 2,1% do total de resíduos coletados, mesmo percentual dos últimos três anos. Para desespero, a meta é ampliar em dez vezes a reciclagem nas cidades até 2040. Convenhamos, pouco diante da necessidade urgente.
Esse atraso tem relação com a falta de uma política pública que desenvolva um sistema eficiente que recolha e dê a destinação correta ao lixo. Apenas 41,4% da população têm acesso à coleta seletiva. Mais, a promessa do fim dos lixões até 2014 foi descumprida no país. A nova meta é reduzir a zero o número de lixões em todo o Brasil até 2024. Atualmente, segundo o SNIS, existem ao menos 1.694 lixões. Convenhamos (novamente), muito lixão ainda em funcionamento, dando sinais de que a meta de zerar não será alcançada daqui dois anos e meio.
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Não sei dizer se o processo de coleta seletiva de lixo e a destinação correta começou na cidade ou no campo. Quem inspirou quem. Independentemente do passado, pelos números, é fácil saber quem precisa se inspirar em quem no presente e no futuro. É um simples ato de copiar o que está sendo bem feito, com excelência. Afinal, o Sistema Campo Limpo é uma referência mundial, copiada em outras nações. Infelizmente, não é copiado no seu próprio país, principalmente nos espaços onde mais se produz lixo: as cidades. Convenhamos (pela última vez), difícil de entender.
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