As contribuições do escritor Monteiro Lobato para literatura brasileira (e mesmo para o imaginário da população) são incontáveis, apesar das recentes polêmicas que envolvem o autor. Quem não recorda dos personagens Emília, Dona Benta, Narizinho, Visconde de Sabugosa, Tia Nastácia, Saci-pererê, entre tantas outras figuras lúdicas. O tempo passou, mas esses personagens carismáticos seguem em nosso cotidiano, alguns mais vivos do que nunca.
Porém, um dos personagens de Lobato precisa, urgentemente, passar por uma atualização, principalmente pelo público do meio urbano: o Jeca Tatu. O personagem que retrata um produtor rural faz parte da obra Urupês, lançada em 1918, que reúne 14 histórias baseadas no homem no meio rural. Naquela época, muito provavelmente, o Jeca Tatu representava, em gênero, número e grau, esse público que convivia com atraso econômico e educacional.
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Mas o tempo passou e o Jeca Tatu se transformou. Nos dias de hoje, o produtor rural, na sua imensa maioria, não usa chinelo de dedo, não tem mais a enxada como ferramenta de trabalho e muito menos carrega um atraso social em relação a educação, política e economia. Ao contrário!
Por uma exigência principalmente de você que está lendo essa coluna e consome diariamente os alimentos produzidos no campo, essa categoria é dinâmica, capacitada, adota técnicas modernas de produção, tem a tecnologia como uma aliada e está antenada com o que acontece na sua região, no Brasil e no mundo.
Apesar disso, das inúmeras transformações ao longo das últimas décadas, a imagem do homem do campo para uma parcela significativa da população, principalmente urbana, ainda segue com o estereótipo do Jeca Tatu, de Lobato. E, isso precisa ser desmistificado, desconstruído como outras tantas coisas que fazem parte do meio rural para dar lugar a um cenário realista, esse que permite que o Brasil seja um dos principais produtores de alimentos do mundo, em quantidade e qualidade.
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Claro, esse processo leva tempo, mas precisa ter um início. Assim, com conhecimento de causa, eu, você ou outras pessoas ao nosso redor podem formar uma opinião, seja boa ou ruim, de quem está lá no campo, trabalhando para produzir o café e o leite que consumimos toda a manhã, o arroz, feijão, proteínas e verduras que compõem o tradicional Prato Feito do nosso almoço e a carne do churrasco de domingo, entre tantos outros alimentos.
Tenho certeza que o próprio Lobato, se estivesse por aqui ainda, escreveria, do alto da sua sabedoria e criatividade, essa versão atualizada do Jeca Tatu, agora mais contemporâneo e compatível com a realidade. Não concorda?