Desde os dias 27 e 28 de novembro, quando encerrou a cobrança nas praças de pedágio do Paraná, após 24 anos, escuto de várias pessoas que “agora está mais barato ir para praia”. Afinal, com a economia de R$ 46,60 (considerando ida e volta a tarifa de R$ 23,30 cobrada de carro de passeio) sobra um dinheirinho para comer um milho e tomar um coco verde ou mesmo uma cerveja gelada no calçadão de Matinhos ou Guaratuba.

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Mas, ampliada a discussão, ainda é arriscado afirmar que os alimentos que encontramos nas gôndolas dos supermercados também vão ficar mais baratos (ou menos caros) sem a cobrança do pedágio. Isso porque existem algumas variáveis para a composição do preço que pagamos pela comida que fogem do domínio do produtor rural.

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Numa das pontas da cadeia produtiva, no caso a produção dentro da porteira, já não existia a tarifa de pedágio na equação para compor o preço do alimento. O gasto do  produtor de grãos, frutas, verduras, carnes ou outro produto agropecuário não envolve o valor do transporte. Ou seja, o custo de produção do alimento em si no meio rural não muda em nada com o fim do pedágio no estado.

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Da porteira para fora, pela lógica, faz todo o sentido que os alimentos, com o término da cobrança do pedágio, ficassem mais baratos para o consumidor final. Isso porque o frete, serviço de transporte que arcava com o pagamento das tarifas de pedágio, compõe no preço final dos produtos.

Usando a matemática, por exemplo, um caminhão de seis eixos carregado com frango (poderia ser soja, mandioca, laranja ou outro alimento qualquer) gastava R$ 643,80 nas oito praças de pedágio no trajeto de pouco mais de 600 quilômetros entre Toledo, no Oeste do Paraná, uma das principais regiões produtores de aves do Paraná, até a gôndola do supermercado em Paranaguá, no litoral paranaense.

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Olhando para esse valor gasto e dividindo pela quantidade de alimento que carrega o veículo, o desconto seria, num primeiro momento, ínfimo. Mas, multiplique os valores de pedágio que eram cobrados de milhares de caminhões que percorrem diariamente as estradas do Paraná para ver o montante que será economizado e, consequentemente, poderia chegar ao consumidor final.  

Seria natural que esse valor não entrasse mais na conta na hora de definir o preço final dos alimentos. Porém, arrisco dizer que, na prática, não será bem assim. Isso porque existem diversos elos da cadeia produtiva desde que o produto sai da propriedade rural até chegar aos supermercados dos centros urbanos. Pode ser que o setor de transporte amplie sua margem de lucro. Ou que o dinheiro que era gasto com pedágio seja reservado para futuros aumentos do diesel (algo rotineiro nos dias de hoje). Ou mesmo que seja gasto em consertos do veículo, afinal, a tendência é que as condições das estradas, sem conservação, piorem ao longo dos próximos meses.

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É como diz o ditado popular: “precisamos esperar o melhor, mas estarmos preparado para o pior”. Assim, eu como cidadão espero que o fim da cobrança do pedágio no Paraná seja repassado a nós consumidores na forma de alimentos mais baratos. Mas, sinceramente, estarei preparado para continuar pagando caro pelo frango para assar no domingo, sem qualquer mudança no valor atual. Resta esperar e torcer.