Quando nós, cidadãos urbanos, compramos uma camisa, uma calça ou outro item de vestuário, invariavelmente nos deparamos com a etiqueta “Made in China”, “Made in Taiwan’, “Made in Indonésia” ou algum outro país asiático. Apesar de estar escrito na etiqueta que a roupa em questão foi produzida em alguma destas nações, existe uma enorme chance de que tenha sido fabricada com algodão brasileiro.
LEIA MAIS – Energia que refrigera estádios da Copa do Mundo no Catar aquece também aviários no Paraná
Isso porque, atualmente, o Brasil ocupa a segunda posição no ranking dos principais fornecedores mundiais da pluma, atrás dos Estados Unidos, de acordo com dados da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). Entre os clientes, o mercado asiático acaba comprando 99% do algodão brasileiro enviado para fora. A meta é colocar o Brasil no topo do ranking mundial de exportação de algodão até 2030.
VIU ESSA? Na eleição, rural e urbano devem ter representantes e não candidatos
Mas, o cenário favorável nem sempre foi assim. Em 1997, o Brasil era o segundo maior importador de algodão do mundo, atrás somente da China. Isso porque, lá atrás, a cadeia produtiva nacional enfrentava diversos problemas. Na década de 1980, as lavouras de algodão nos principais estados produtores foram dizimadas pelo bicudo-do-algodoeiro, considerado até hoje a maior praga da cultura. Ou seja, restava comprar algodão no mercado internacional para abastecer as indústrias locais.
VIU ESSA? Mais cerveja! Cevada do Paraná impulsiona multiplicação de cervejarias no Brasil
Ao longo das últimas décadas, uma série de ações permitiu a retomada da produção de algodão no país: estudos na tentativa de erradicar a praga (que ainda se faz presente nas lavouras, mas de forma, digamos, controlada), convencimento de produtores rurais a retomarem os investimentos na cultura, melhoria na qualidade do produto final e a abertura de mercados internacionais para o algodão brasileiro. Deu certo!
Por aqui, a indústria têxtil nacional absorve quase 35% da produção de algodão. Apesar de o dólar estar vantajoso para a exportação, esse consumo local traz certa tranquilidade aos cotonicultores, principalmente diante de cenários nebulosos, como pandemia, guerra entre Ucrânia e Rússia e outras disputas geopolíticas.
Paraná engatinha na atividade
No passado, o Paraná chegou a ser o maior produtor nacional da fibra. Porém, na década de 1990, o bicudo-do-algodoeiro e problemas climáticos fizeram com que os cotonicultores trocassem o algodão pela soja.
LEIA AINDA – Azeite de oliva mais caro! Seca no campo encarece o “ouro verde” nos supermercados
Hoje, 95% das lavouras de algodão estão em área de Cerrado. Desse total, 70% são produzidos em Mato Grosso e 23% na Bahia. O restante é cultivado em Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Maranhão e Piauí, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Por aqui, no território paranaense, há projetos, ainda tímidos, da retomada da produção de algodão. Na safra 2020/21, os produtores paranaenses plantaram apenas 800 hectares. Como comparação, Mato Grosso plantou 1,2 milhão de hectares e a Bahia outros 309 mil hectares. Ou seja, a caminhada ainda é longa, principalmente por conta da força (e dos preços) da soja, que seduzem os agricultores. A cultura do algodão no Paraná precisa ganhar terreno e, consequentemente, escala.
LEIA TAMBÉM – E a picanha? Carne de frango promete dominar o mundo até 2030
Apesar de o Paraná não figurar mais entre os “barões do algodão”, a atividade retomou a sua importância para a economia nacional. Hoje, milhões de peças de vestuários usadas em todos os cantos do planeta são feitas com algodão brasileiro. Então, quando você se deparar com uma calça ou camisa fabricada nos países asiáticos, a matéria-prima, muito provavelmente, é “Made in Brasil”.