O ex-ministro Roberto Campos dividia os países em duas categorias: os naturalmente pobres, mas vocacionalmente ricos, como o Japão, a Coreia do Sul e Taiwan, e os naturalmente ricos, mas vocacionalmente pobres, como o Brasil e a Argentina.
Não dá para entender nosso país, imenso, farto de riquezas minerais, de terras férteis, de biodiversidade, de belezas naturais, mas pobre de ética, de Justiça, de civismo e de planejamento.
Não aguentamos mais ver, entra ano sai ano, a mídia divulgar os furos nas contas do Governo e os juros estratosféricos – que empobrecem o trabalhador -, as catástrofes sempre previstas, mas nunca prevenidas, a corrupção nunca punida, as mentiras repetidas, o político desmascarado nunca vencido.
Ver a mídia enaltecer celebridades efêmeras, gente sem valor, sem trabalho e sem conteúdo. Está difícil às crianças e jovens o acesso a bons exemplos. E dar exemplo é o melhor modo de ensinar.
Nunca vimos tanta corrupção, tanta maldade, tanta impunidade de poderosos e políticos inescrupulosos, mas intocáveis.
Porque tanta ganância? Quantas vidas imaginam ter para gastar tanto dinheiro? Que projeto de poder é esse que não se importa em destruir um país inteiro?
A tradição cristã nos diz: “ajuda-te e o céu te ajudará”. Lembrei disso nesse momento de desesperança e de desencanto por que passa nosso país.
Quanta gente desmotivada, cansada, olhando só para o chão, percebendo apenas o movimento das sombras sem cor! De tanto olhar para o chão, acostumamo-nos a comportamentos robóticos insensíveis, a ter visão monocromática de tudo e de todos, cedendo ao automatismo dos dias. E depois de um tempo, nem achamos o chão tão ruim assim. Nome disso: apatia.
Os apáticos sofrem do vício da indiferença. Acostumaram-se com as notícias ruins, as desgraças, os flagelos destruidores, e isso nem mais lhes toca o coração. Aceitaram o “jeitinho brasileiro” e a “corrupção” como parte do destino ou de uma provação à qual estamos sujeitos.
Apatia é doença da alma. Congela a vontade, paralisa os movimentos, faz-nos vivos-mortos, que perdem o sentido da vida. Alguém que perde a batalha antes mesmo de lutar. Faz-nos pensar que somos incapazes de mudar o entorno e que nosso futuro está selado.
Engano. A história mostra que muitos povos e nações precisaram chegar a esse ponto para reagir, mudar e evoluir. E somente quem está caído pode nos dar o edificante exemplo de se levantar, de não se curvar, de não desistir.
É hora de lembrar que o bom é inimigo do ótimo e para se chegar a algum lugar é preciso escolher uma direção e se mover. Ficar parado não leva a lugar nenhum.