Pode ser que você não concorde comigo, mas não dá para fazer um julgamento sem antes provar o delicioso bolo de chocolate feito no Semente de Girassol, restaurante vegano que fica ali no Largo da Ordem – no prédio histórico onde foi o Teatro Hauer, o primeiro teatro de Curitiba. A massa fofinha, leve, nem tão molhado e nem seco, recheado e coberto com uma ganache chocolatuda, mas com doçura na medida certa e nada enjoativo: esse é o bolo de chocolate que custa *R$ 6 a fatia.

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Não sou vegetariana, também não sou vegana, mas reconheço e respeito a causa animal. E assim como quase metade dos frequentadores do Semente de Girassol, de vez em quando me aventuro para os lados dos vegetais. Como Curitiba é reconhecida por ser uma das capitais mais veganas do país, não tem como falar do tema sem citar o Semente – precursor de todo o movimento veg na capital.

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Por enquanto, bora comentar do bolo de chocolate. Ele não vai ovos, nem leite de vaca. Não sei se isso talvez seja o segredo dele. Emerson Apio, proprietário e idealizador do restaurante, revelou que a massa do bolo é simples. “É a mesma receita de um bolo de chocolate normal, nós só não colocamos o ovo e o leite de vaca. Adicionamos o leite vegetal, de soja. Parece que não dá certo, mas dá”, explica.

Foto: Eloá Cruz.
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Acho que ele esqueceu de dizer do ingrediente principal: ativismo. Começa pelo leite usado no Semente. Sempre quando podem, fazem o próprio leite de soja usado nas receitas e também costumam vender o litro quando encontram soja não transgênica.

“A ideia do leite é tornar o mesmo preço do leite de vaca, ou mais barato. A pessoa que está acostumada a tomar um leite normal e tem acesso a um leite vegetal que custa três vezes mais caro que o leite normal não vai optar por esse leite. Por mais que seja bom, muitas pessoas não vão fazer isso”, explica.

O Semente de Girassol, desde a sua concepção, há exatos 10 anos, luta pela causa animal. “Um lugar que tivesse opções e que essas opções tivessem o mesmo preço, ou mais acessível, que os lugares que usam ingredientes de origem animal”, revela Emerson.

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Causa animal: quatro patas ou duas pernas

Causa animal, que se expande também ao ser humano. O Semente de Girassol não usa ingredientes vindos de bichos e tem todo o cuidado com funcionários e frequentadores. “Garantimos aos colaboradores seguro de vida, plano odontológico, plano de saúde. Na pandemia, continuamos com todos os funcionários, apenas reduzimos o horário de trabalho. São dez pessoas, que trabalham das 11 às 18 horas”, detalha.

Estando quase no coração do Largo da Ordem, o Semente tem consciência da sua vizinhança. Por isso, durante alguns meses o restaurante chegou a distribuir marmitas aos moradores de rua. Um novo projeto, que leva as refeições mais próximas de quem precisa, ainda está sendo estudada e deve sair do papel em breve.

Foto: Átial Alberti / Tribuna do Paraná.

Almoço simples, honesto

O buffet no horário do almoço funciona de domingo a domingo, das 11 às 15 horas. Há sempre saladinhas frescas, folhas e vegetais crus e cozidos, leguminosas, opções de arroz e feijão, polentinha, macarrão, molho de carne de soja, batata palha, farofa. É honesto, vegano, pouca gordura, sem glutamato monossódico e com preço fixo de R$ 17 (livre). Quando podem, utilizam vegetais orgânicos.

Por ser ali do ladinho da feirinha do largo da Ordem, o movimento é maior aos domingos. Se tiver sol então, Emerson garante a venda de pelo menos 200 refeições. Nos dias mais calmos, uma média de 100 refeições ao dia. Durante a tarde, além do super bolo de chocolate, há lanches, salgados, trufa caseira de chocolate e sorvete italiano em dias de calor.

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

“Eu não costumo dizer isso, mas se os abatedouros e churrascarias abrem de domingo a domingo, nós também abrimos”, defende Emerson. Pelos últimos nove anos, ele garante que trabalhou todos os dias, sem descanso. Sem feriado, sem Natal, Ano Novo. Quando dá, escapa um período do dia e leva as crianças até a praia, num bate e volta.

Virada de chave

Pai de três filhas, de 5, 7 e 8 anos, Emerson conta orgulhoso que fez o parto das três filhas. Ele mantém a alimentação vegana das filhas e garante que são saudáveis, assim como ele e a esposa Josilene. “Ainda falta muita informação sobre o veganismo, mas durante esses últimos dez anos muita coisa mudou, as pessoas estão mais conscientes”, comemora.

E foi numa aula de processamento animal, ainda quando estudava o ensino técnico no interior de São Paulo, que decidiu virar vegano do dia para a noite. Emerson viu um porco ser morto. “As pessoas riram e eu fiquei desconfortável, achei desrespeitoso”. A cena desconfortável e sangrenta ainda segue forte na memória.

Mesmo formado em Tecnologia da Informação, Emerson tinha um sonho de ter uma loja voltada à causa animal. “Queria ter uma loja que realmente fizesse a diferença. Somos responsáveis por todas as situações da humanidade”, acredita. A ideia deu certo.

*Os valores do cardápio divulgados no post são de maio de 2023 e podem sofrer alterações.

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