Em Curitiba, há uma clientela silenciosa, fora dos holofotes das redes sociais, que mantém vivos os restaurantes tradicionais e cheios de histórias. Lugares simples, de bom tempero, bons ingredientes, que seguem por anos servindo pratos com sabor e aroma atemporais.
À parte de todo modismo e tendências, há sabores que basta a gente colocar na boca que nos fazem voltar no tempo. Você dá a primeira garfada e vem aquela sensação de que parece que comeu algo assim muito saboroso anos atrás, que já nem lembrava. Foi isso que eu senti quando experimentei o molho do clássico parmegiana feito pelo Restaurante São Francisco.
Localizado na Rua São Francisco, bem na região histórica e boêmia de Curitiba, o restaurante inaugurado em 1955 oferece há anos o clássico cardápio de segunda a sábado, no horário do almoço.
Já sabendo de todo o “patrimônio” que o restaurante carrega, escolhi uma mesa discreta. No salão, várias cabeças grisalhas, senhores que reuniram no horário do almoço para conversar com amigos, falar de política, de cotidiano, e ainda provar um bom prato.
A vida nos ensina a ser sábios. E a sabedoria dos mais experientes é muito valiosa. Abri o menu e escolhi o queridinho da casa: alcatra à parmegiana (R$ 59 a meia porção). Um prato robusto, que poderia ser dividido facilmente entre duas pessoas. Vem uma bela peça de filé grosso ao ponto, com a carne bem rosada, empanada, sobre um delicioso molho. Na cobertura, uma fatia de presunto e queijo derretido.
O prato acompanha também saladinha de folhas, cenoura ralada, tomate, cebola, chuchu cozido e maionese de batata. Vem pãozinho francês fatiado, arroz soltinho e batatinha frita.
Um parmegiana para ser bom, basta ser saboroso. Há quem analise pela crocância do empanado, pelo molho, ou pela escolha do queijo – já que o nome parmegiana vem do autêntico queijo parmesão italiano, o Parmigiano Reggiano.
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No Restaurante São Francisco, o empanado é discreto e quase some diante do molho robusto. O que chama a atenção é a altura da carne. Não é um simples filezinho fino empanado, e sim um bom corte, em que é possível ver fibras macias e suculentas da carne – rosado que se confunde com o tom alaranjado do molho.
Da Galiza para Curitiba
O Restaurante São Francisco inaugurou em 1955 por Secondino Muiños que veio da Espanha, da região da Galícia. Era marceneiro, mas quando chegou ao Brasil resolveu abrir o restaurante em sociedade com um primo que já morava pela capital paranaense.
O negócio deu certo. Em 1960, já estabilizado, a esposa de Muiños e seus três filhos vieram da Espanha e ajudaram Secondino a tocar o negócio. Entre eles, o jovem Valentin Muiños Vasquez, de 17 anos. “Saí da Espanha menino, só estudava. Aí chegando aqui, comecei a trabalhar com meu pai em 1961. Fiquei no bar, depois virei garçom. Até que assumi aqui”, conta o atual proprietário Valentin.
No final dos anos 70, Secondino Muiños faleceu e o filho Valentin assumiu o negócio. O restaurante sempre ficou localizado no mesmo lugar, mas recebeu algumas reformas. “No começo era bem diferente. A gente fez uma pequena reforma, mas tenta manter a tradição de quando foi fundado. O movimento antes era muito bom nessa rua. Antigamente servíamos almoço e jantar. Paramos de trabalhar à noite, não estava mais compensando”, revela Valentin, hoje com 80 anos.
Nesses quase 70 anos, o restaurante conquistou clientela fiel. Advogados, juízes, políticos, da primeira a terceira geração de clientes. Governadores, prefeitos, vereadores, deputados. Muitos passaram pelo salão do Restaurante São Francisco.
Entre as estrelas, a feijoada e o parmegiana seguem entre os mais pedidos da casa. A feijoada é bem servida, sempre às quartas e sábados por R$ 60 para duas pessoas. O parmegiana é oferecido em duas versões, com mignon (R$ 77) ou com alcatra (R$ 59) a meia porção que serve até duas pessoas.
Dos pratos tradicionais às peculiaridades
O restaurante serve alguns pratos fixos durante a semana, a famosa feijoada quartas e sábados, rabada às quintas, sexta-feira tem costela e o tradicional Puchero: cozido tradicional espanhol.
O prato foi uma sugestão de Valentin, que assina o prato. Feito com repolho, batatas cozidas, grão de bico, joelho de porco, costelinha defumada e lombinho. O Puchero é servido com arroz e vende muito bem. “É tipo como uma feijoada branca”, explica Valentin. O prato custa R$ 54 e serve duas pessoas.
Ouro da casa, ou melhor uma pequena joia é a casquinha de siri. O aperitivo é bem disputado e com segurança pode ser considerado como uma das melhores casquinhas de siri da região.
“Nosso siri é um dos melhores de Curitiba. Nem no Litoral você encontra um que serve igual ao nosso. É muito bom. É a qualidade da carne, o tempero. A procedência que influencia bastante, vem de Antonina ou Guaraqueçaba”, comenta o proprietário.
A carne é preparada com cuidado, analisada para retirar qualquer casquinha que fica do crustáceo. Depois, recebe um tempero todo especial e é refogada. “Se for ao forno, fica seca”, confidencia. Cada unidade custa R$ 16.
*Os valores do cardápio divulgados no post são de outubro de 2024 e podem sofrer alterações.
Restaurante São Francisco
O restaurante São Francisco fica na Rua São Francisco, 154 – Centro. Funciona de segunda a sábado, das 11 às 15 horas. Fechado aos domingos. É uma excelente opção para um almoço durante a semana no Centro ou um passeio em família no sábado. Não realiza delivery.
O Rango Barateza tira férias por algumas semanas. Calma, os textos suculentos voltam na primeira sexta-feira de novembro. 🙂
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