Pioneira do Nordeste! É dela o sorvete de frutas mais consagrado de Curitiba

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Já é março, férias escolares já encerraram, mas tem um lugar aqui em Curitiba que tem a força de transportar a gente para o Nordeste. Praias de areia clara, mar azulzinho, brisa suave, sol, sossego. O nosso caribe brasileiro é o mais gostoso – literalmente falando. As frutas regionais e castanhas são parte do roteiro turístico nordestino.

Seria difícil um Nordeste de praia paradisíaca, sol e brisa em Curitiba. Pelo menos quando bater uma saudade dos sabores de lá, das frutas todas, você vai lembrar da história da Sheila que vou contar logo a seguir e encontrar refúgio no Pedacinho do Nordeste, no bairro Água Verde.

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Sheila Martins Dobuchak, de 61 anos, veio do Piauí. Em 1995 se mudou para Curitiba, acompanhando o marido. De tempos em tempos, quando voltava para sua terra natal, não deixava de matar a saudade das frutas e dos sorvetes por lá. Mas era só voltar para Curitiba que sentia falta do sorvete, com fruta, sabor natural.

“A gente não tinha opção aqui. Todo ano, ia lá pra ‘casa’, passava na sorveteria todo dia. Foi aí que eu pensei, ‘acho que eu poderia montar um negócio assim em Curitiba’. Quando eu falei para minha família, disseram: ‘Tá doida? No frio de lá não vai dar certo'”, lembra.

Sheila não deu muita bola para os comentários e acreditou na própria ideia, resolveu apostar. “Se for pela cabeça dos outros, que te colocam para baixo, a gente não faz nada na vida. Só digo que algo não dá certo depois de tentar”, reforça.

Ela foi atrás, comprou uma máquina de sorvete num modelo antigo. O marido, quando chegou do trabalho, viu a máquina na cozinha. “A ideia veio na cabeça, nem meu esposo acreditava que ia dar certo”, conta. No outro dia, o rapaz da loja da máquina de sorvete passou o dia ensinando Sheila a preparar a sobremesa. Ele ensinou ela a fazer sorvete de morango, de chocolate, creme. “Quando ele terminou, eu disse: ‘quero fazer com fruta, natural’. Ele: ‘ah, sorvete assim não dá certo, não presta’. Então eu falei, ‘deixa então que eu vou descobrir como é que faz'”.

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E assim foi. Determinada, Sheila aproveitou parte do que aprendeu com o rapaz e foi criando receitas usando frutas. Os filhos e o marido eram as ‘cobaias’. “Os amiguinhos do meu filho iam pra casa fazer trabalho de escola, experimentava também. A cozinha ficou lotada de sorvete. Eles diziam: ‘mais fruta, mais açúcar, menos açúcar’, e assim fui testando”, confessa.

Com os sorvetes prontos, Sheila decidiu vender na vizinhança. Só que na primeira saída na região, um engano de valores fez a empresária perder dinheiro em vez de ganhar. “Não quero vender de porta em porta, preciso de um ponto físico para alugar”, decidiu.

A jornada atrás de um ponto ideal durou meses. Depois de muito procurar, Sheila parou o carro e fez um pedido especial para Deus. “Rezei, pedi para que se fosse dar certo, que Ele me mostrasse o ponto. Depois que rezei, liguei o carro e na quadra da frente tinha um ponto ‘aluga-se'”, lembra ela. Sheila conversou com o proprietário da loja, mas havia duas pessoas na frente querendo a locação.

Desanimada, a piauiense deixou um contato com o proprietário, sem criar muita expectativa. A surpresa aconteceu quando Sheila recebeu um retorno sobre a possibilidade de aluguel um mês depois.

“Eram dois pontos e ele queria alugar os dois juntos. Como eu nunca tinha feito isso, tive medo de arriscar. E tivemos que reformar tudo, piso, parede, tudo. Ficamos com os dois pontos. Ele deixou quatro meses do segundo [ponto] sem pagar aluguel. Disse que se desse certo, passaríamos a pagar depois. Se não desse movimento, que poderíamos devolver o ponto sem pagar pelos quatro meses. Acabamos ficando com os dois. E com isso se foram 23 anos”, conta, orgulhosa da conquista.

De sete para 67

Quando Sheila começou, a Pedacinho do Nordeste oferecia apenas sete sabores de sorvete. Com os anos, novos sabores foram surgindo. “Fui aumentando, aumentando, na cara e na coragem. Era quase só freezer dentro e povo na rua”, brincou. As máquinas de sorvete foram ficando sofisticadas, o processo de fabricação mudou, passou a ser pasteurizado.

“Hoje o meu esposo se aposentou e me ajuda. Ele brinca que é meu funcionário. E foi assim, aconteceu porque eu fui metendo as caras. São sorvetes sem aromatizante, sem colorante. É com fruta. A gente traz do Nordeste, do Norte, e faz. De graviola a cupuaçu, manga, cajá, umbu. Fabricar com fruta é muito mais caro e dá mais trabalho, mas a gente compensa vendendo na quantidade”.

Na sorveteria Pedacinho do Nordeste, cada bola de sabor simples custa R$ 6,50, os sabores especiais ficam por R$ 7,50. Difícil é saber qual é o sabor queridinho. Tudo depende do clima, do humor, da vontade. Se é mais frio, sai mais cupuaçu, castanha, chocolate. Se está quente, umbu, cajá, limão. A sorveteria abre o ano inteiro, todos os dias, de domingo a domingo.

Entre as novidades, dá para experimentar o exótico sabor de flor de laranjeira com damasco, ou de café com cardamomo. A escolha é livre: do clássico morango ao sorvete de abacate, manga com framboesa, milho, nozes. Há opção também para diabéticos, veganos e intolerantes a lactose.

Durante todos esses anos no mesmo lugar, a clientela é cativa. Hoje filhos dos clientes antigos frequentam a sorveteria. Quem era criança anos atrás, hoje volta com os filhos. “Tem cliente que a gente encontra na rua, reconhece, conversa. É quase como uma grande família. Tem cliente que a gente sabe até o sabor que gosta”, confidencia a empresária.

Pioneira do açaí em Curitiba

A Pedacinho do Nordeste começou a vender açaí há 20 anos. Sheila conta, com orgulho, que foi uma das primeiras a vender a polpa da fruta amazônica em Curitiba. “O nosso produto é muito bom, de exportação. Ninguém conhecia antes. A gente colocava no copo de cafezinho e entregava para os clientes experimentar. Preparava 1 kg, 2 kg por semana. Hoje são duas, três toneladas. E eu não encho de emulsificante. Quem conhece mesmo, ama o nosso açaí. Vendemos ele batido, com xarope de guaraná, e ele em barra”, conta.

O açaí é vendido em dois tamanhos no Pedacinho do Nordeste. O menor, de 350 ml, custa R$ 16,70, e o maior de 500 ml sai por R$ 22,20. Acompanham granola, banana e outros adicionais.

*Os valores do cardápio divulgados no post são de março de 2024 e podem sofrer alterações.

Pedacinho do Nordeste

A sorveteria Pedacinho do Nordeste fica na Rua Marquês do Paraná, 947 – Água Verde. Funciona de domingo a domingo, do meio-dia às 19 horas. O espaço é pet friendly. Telefone: (41) 3342-7067.

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