Se o pastel com o caldo de cana é tradição nas feiras pelo país, em Curitiba o Pierogi do Tadeu é a cara da feirinha do Largo da Ordem, aos domingos. A tradição de comer pastel polonês nas barraquinhas do São Francisco já tem algum tempo, mais exatamente 35 anos. Quem está à frente dos negócios é o Rei do Pierogi, Tadeu Kawalec, de 70 anos.

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O pierogi, o ‘pastel polonês’, é um prato que lembra um ravióli. A massa recheada é cozida na água e finalizada com molhos variados. O pierogi do Tadeu tem três recheios diferentes, embora o tradicional com batata e ricota seja o mais vendido e oferecido nas feiras de rua por Curitiba. Por encomenda prévia, dá para experimentar o pierogi com recheio de repolho com carne e o de repolho com funghi.

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O pierogi tradicional de batata com ricota posso dizer com propriedade: massa fina, delicada, recheado com batata cozida e ricota e temperado com pouquinho de pimenta do reino. São dois molhos que podem acompanhar a massa: o de champignon com nata fresca, temperado com mais de 20 ervas – opção vegetariana, e o molho de calabresa moída, bem refogadinha, temperado com 14 ervas, mais cebola e manteiga. Os dois molhos são muito bons, mas o de calabresa é meu preferido – escolha também da maioria dos clientes.

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.
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A porção para comer nas feiras, já com o molho incluso, é vendida em quatro tamanhos: com quatro unidades (R$ 17), seis unidades (R$ 24), dez unidades (R$ 36) e 15 unidades (R$ 51). A quantidade escolhida vai depender da fome.

Há também as opções para levar para casa, com a venda do molho à parte. A porção 10 unidades para aquecer em casa custa R$ 23, e a de 15 unidades R$ 32. Os molhos, tanto de champignon quanto de calabresa, custam R$ 13 (porção com 145ml) e R$ 19 (250ml).

De sobremesa, Tadeu garante que os sonhos dele são os melhores da cidade. São três recheios: creme, doce de leite e goiabada. A unidade sai por R$ 7,50, ou R$ 28 a porção com quatro deles.

Sonhos do Tadeu do Pierogi. Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Aprovado por Jaime Lerner

Numa conversa bem despretensiosa, Tadeu contou para o blog a história do prato em Curitiba. Ele logo então ‘cutucou’ a concorrência: “Eu não me preocupo se tem outros lugares que também fazem pierogi, há outras pessoas fazendo em Curitiba. Tem espaço para todos aqui”, comenta.

E tem mesmo. A majestade, no entanto, é uma só. Tadeu foi quem popularizou o prato em Curitiba, fez do pastel polonês um joia da gastronomia em Curitiba.

A história começa em 1988. “Foi na feirinha de domingo. Eu dei essa ideia de barraca típica para o pessoal da Fundação Cultural. O Jaime Lerner gostou muito da ideia, os pais dele são da mesma cidade onde meus pais moravam na Polônia. Eu apresentei meu projeto na Fundação Cultural e em duas semanas começamos a trabalhar na feirinha, com barraca improvisada”, lembra Tadeu.

Os pasteis cozidos foram preparados durante a semana pelo casal e chegou o grande dia da estreia. Tadeu e a esposa, Maria Kawalec, não esperavam tamanha procura. “A novidade e a comida boa que a gente apresentou, de forma bem tímida, fez muito sucesso. Em duas horas, eu me lembro, a gente vendeu todo o pierogi que tínhamos preparado para a feira toda”, recorda.

Maria Kawalec, Tadeu Kawalec e a filha Gabriella. Foto: Gerson Klaina / arquivo Tribuna do Paraná.

Mesmo na semana seguinte, preparados para outro grande movimento, a venda foi ainda maior. O estoque esgotou em três horas. Os sabores daquela época são os mesmos de hoje, apenas com ajustes de tempero, preparo. “As receitas foram aprimoradas”, revela o empresário.

A filha Gabriella, que trabalha com os pais, é formada em engenharia de alimentos. Tadeu conta que ela pesquisou sobre o pierogi, como ele era servido pelo mundo. “Em Chicago, na França, na Alemanha, na Polônia, onde tinha pierogi, ela pesquisou e concluiu que o molho como o nosso, de calabresa, é o que fica melhor”, revela.

A receita então foi aprimorada e não muda mais. A farinha também foi estudada para garantir melhor qualidade. “Uma indústria faz uma tonelada de farinha por mês para nós. Minha filha que fez a pesquisa e descobriu qual era a melhor farinha para a receita”, conta o empresário.

Na Polônia, a receita clássica do prato é servida com bacon. Tadeu, conhecendo mais o clima de Curitiba, que apesar de ser ‘mais fresco’ que outros lugares do país, ainda não tem temperaturas como da Polônia. Por isso, o tradicional da receita polonesa com molho de bacon se transformou em molho mais leve, menos gorduroso, de calabresa.

Abençoado pelo Papa João Paulo II

Em novembro de 1981, Tadeu com 27 anos e a esposa com apenas 25 chegaram ao Brasil. O casal atravessou o oceano de navio quando recebeu um convite para conhecer o país continental. “Em 1978 descobrimos que tínhamos primos aqui. Um irmão do meu pai veio para o Brasil em 1936. Ele foi para o Norte Pioneiro viver lá. Depois com o fim da 2ª Guerra Mundial, esse irmão achou que tínhamos morrido na Polônia durante a guerra. As notícias eram difíceis”, explica Tadeu.

Maria e Tadeu passaram dois meses em Londrina, assim que chegaram ao Brasil. Depois vieram para Curitiba, onde foram recebidos pelos padres poloneses na Igreja São Vicente de Paulo. “Eles nos acolheram de coração aberto, então ficamos por aqui”, conta.

Os primeiros meses foram difíceis. Tadeu trabalhou de cozinheiro numa fábrica de automóveis. Mesmo não sabendo a língua portuguesa, se dedicava. Sem documentos e trabalhando sem registro, precisou sair da fábrica meses depois com a chegada da fiscalização.

Poucos anos depois, em 1984, o papa polonês João Paulo II fez uma visita ao Brasil. “Ele passou por Florianópolis. Como não pudemos ir até lá, mandamos um telegrama e ele respondeu no mesmo dia, mandou uma benção. Fui abençoado pelo Papa. Hoje eu sou diácono da Igreja São Vicente de Paula, onde fomos acolhidos quando chegamos da Polônia. Por isso eu digo, o pierogi é uma comida abençoada”, revela.

Para retribuir a benção, Maria e Tadeu fizeram nos últimos aniversários do Papa um bolo de aniversário que era distribuído na feira do Largo da Ordem, todos os anos. O bolo pesava de acordo com a idade do Papa. “Todo ano o bolo aumentava 1 kg. Quando ele fez 81 anos, fizemos um bolo de 81 kg. E assim fizemos até os 84 anos. Paramos quando ele faleceu. Era uma tradição nossa, cultural”.

*Os valores do cardápio divulgados no post são de agosto de 2023 e podem sofrer alterações.

Pierogi do Tadeu por Curitiba

Atualmente, o Pierogi do Tadeu pode ser encontrado diariamente nas feiras de rua de Curitiba. Às terças, a feira acontece na Feira Noturna do Batel (Rua Dr. Alexandre Gutierrez), às quartas na Feira Noturna do Hugo Lange, às quintas na Feira Noturna do Água Verde, às sextas na Praça da Ucrânia. Aos sábados na Feira do Batel (Rua Carneiro Lobo) e aos domingos na tradicional Feira do Largo da Ordem.

O Pierogi do Tadeu também tem loja física, que oferece opções da massa para retirada. Ela fica na Rua Alberto Foloni, 418, no Juvevê. Abre de segunda a sexta, das 10 às 18 horas, sábado de 10 às 15 horas, e domingo das 10 às 13h30. Encomendas pelo telefone (41) 3253-6260.

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