Neste primeiro post de estreia do blog, decidi contar de um lugar muito simbólico que durante alguns anos foi um vizinho sempre muito frequentado e com tempero único: o Missal Shawarma. Passar com fome na esquina de casa era tortura certa, bem ali entre a Nilo Cairo e a Francisco Torres, no Centro. Dizem por aí que o melhor shawarma da Curitiba é o do Missal. Por que será?
Alguns dizem que é pela maionese de alho, outros pelo molho de pimenta da casa – receita única e aprimorada durante anos e anos pelo seu Missal. Quem sabe seja mesmo o tempero da carne. Eu acredito que o sucesso está no sanduíche todo: carne suculenta e bem temperada; salada com picles, tomate e cebola; batata frita sequinha, pão sírio sempre fresquinho. Agora junte tudo isso num lanche leve, de tamanho bom, chega rápido na mesa e que custa R$ 23* (misto) acompanhado de dois molhos caseiros da casa – vem direto da geladeira para a mesa do cliente. Quem é que precisa de ketchup?
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Os sanduíches variam de R$ 24 (carne) a R$ 14 (vegetariano). Há também porções de fritas, pequena (R$ 11), média (R$ 15) e grande (25), molhinhos de pimenta e de alho para levar pra casa (R$ 12 a bisnaga de 200 ml), pacote de pão sírio (R$ 12) e bolinho de falafel (R$ 3 a unidade). O shawarma de frango é originalidade do seu Missal. Sim, ele deu uma ‘mexida’ na proposta do sanduíche árabe. É porque o shawarma original não é feito com carne de frango. Aliás, seu Missal de árabe só tem o paladar mesmo.
Vindo de Foz do Iguaçu há mais de 20 anos, o empresário João Gomes Cavalheiro, o Missal, diz que só deu certo porque estava quebrado. “Vim pra Curitiba devendo o que não tinha. Se eu tivesse dinheiro pra voltar, eu teria voltado, porque o pessoal não conhecia [o shawarma]. Mas tudo tem uma lição, tudo a gente tira uma lição”, conta Missal.
O apelido veio quando ele trabalhava num hotel em Santa Terezinha do Iguaçu. “O gerente que ia me treinar perguntou meu nome. Eu: ‘João’. Ele: ‘se eu chamar João, sai um de cada canto’. Então ele perguntou de onde eu era. Como eu sou de Missal, ficou Missal. Me chamam assim até hoje”, relembra o empresário.
Trabalhou anos na área de alimentação. Aos poucos, foi pegando o gosto pela gastronomia. “Não trabalhava com shawarma, com lanchonete, mas sempre fui fã de shawarma. Eu ia pra Foz só pra comer shawarma. Como o pessoal não conseguia fazer a receita, só se via em Foz. Com o tempo, foi saindo de lá. Aí que em 2008 eu tive a ideia de vir para Curitiba”, conta.
“É melhor que fast food”
Missal, defensor do sanduíche, costuma dizer a todos que o shawarma é uma refeição completa, simples e saudável. “Não trabalhamos com nada de fast food. Sem queijo, presunto, calabresa. O processo se repete todos os dias. Por incrível que pareça, estamos servindo sanduíches sem industrialização”, releva, orgulhoso.
Cada sanduíche tem, em média, de 100 a 150 gramas de carne, dependendo da mão do montador. No total, são 300 gramas de lanche. Carne pura, sem gordura, feita com 50% de coxão mole e 50% de bife do vazio. Na versão frango, 70% de filé de coxa e 30% de peito – tudo sem pele.
O molho de pimenta suave e a maionese de alho são um xodó à parte. A maionese caseira é simples, feita com leite. Missal usa o alho cru e engrossa com óleo. Vai uma pitada de sal e também um pouco de água. São consumidos em média 50 litros da maionese por dia. Já o molho de pimenta, o consumo diário varia de cinco a oito litros.
A pimenta, no início, era um problema para o Missal. “Toda pimenta que eu comia me fazia mal. Eu tinha um pé de pimenta, comecei a colher e manipular pra mim. Demorei para chegar nesse padrão. Fiz vários testes. Uso a pimenta-dedo-de-moça, uma conserva com vinagre curtida durante bastante tempo. Vou batendo com o próprio vinagre, com sal e óleo. Coloco uma cenoura cozida para dar uma engrossada. Quando mais tempo curtindo, melhor. Um mês, dois, três meses. Tenho estoque de três meses, uso muito”, revela.
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De 500 a 700 sanduíches por dia
Aberto de segunda a sábado, do almoço ao jantar, manter o grande volume na produção e ter sempre o mesmo padrão de sanduíche não é fácil. “É bem gratificante pelo trabalho, mas não é fácil. Pelo nosso estabelecimento, é fora do normal o que a gente serve. Nosso consumo varia de 500 a 700 por dia”, explica Missal.
Para dar conta de tudo isso, a equipe é bem treinada. “Tivemos que desenvolver um sistema rápido, qualidade e rapidez porque o cliente quer sentar e em 15 minutos quer fazer a refeição e voltar para o cotidiano dele. A gente teve que desenvolver isso aí, tivemos que chegar nessa rapidez”.
Durante a semana, a lanchonete traz movimento e também segurança para a região. Quem mora na vizinhança logo nota que há sempre uma viatura ou outra parada no Missal. E a frequência dos policiais nada tem a ver com a criminalidade. “A gente dá desconto pra eles, porque eles estão na rua com chuva ou com sol”, explica Missal.
Logo quando Missal chegou a Curitiba, os policiais que trabalhavam em Foz e vinham para Curitiba em operação iam comer shawarma. “Um dia um senhor do Bope me perguntou se não havia desconto. ‘A gente come lá [em Foz] e temos desconto’. Fazemos um preço melhor pra eles, que garantem a segurança na redondeza. Dá uma aliviada. Hoje vêm todos: Cope, Guarda, Civil. Para eles é prático: pode comer na viatura, em pé, não precisa de prato nem nada. Uma refeição completa”, garante.
*Os valores do cardápio divulgados no post são de fevereiro de 2023 e podem sofrer alterações.
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