Um ano de blog, de reportagens, histórias e muita comida saborosa. O Rango Barateza fecha seu primeiro ciclo de vida, já dá seus primeiros passos sozinho, e conclui nesta sexta-feira a conta de 50 incríveis histórias – de lugares que encontrei circulando pela cidade e também pelas sugestões enviadas pelos leitores.
A comemoração é especial e aniversário pede bolo, caprichado, cheio de doçura. Por isso resolvi visitar um lugar na última semana que segue técnicas à risca para garantir o bolo mais fofo da cidade. Quando dá, ou a ocasião permite, a gente pode se dar ao luxo de comer um bom doce, uma generosa fatia de bolo, num lugar confortável.
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A fatia de bolo generosa e cheia de sabores é da Chiffon Cake, que fica no Hugo Lange. Ocasiões especiais merecem bolos como este. Apesar de cheio de técnicas, bons ingredientes e complexidade, a fatia do bolo de pistache com amoras tem um preço justo pelo que é oferecido: R$ 26,50.
Sabe quando tudo na fatia de bolo conversa? A ganache, a amora, o pistache, a massa fofinha. A cada garfada, sensações diferentes. Quis provar cada camada separadamente. Massa super fofa com sabor de pistache, recheios de ganache de chocolate com amoras, brigadeiro de pistache e cobertura leve, de creme batido com pistache. Por cima, uma calda azedinha e levemente doce de amoras.
Há fatias de bolos mais simples, mas também tão saborosas quanto. Experimente o verdadeiro chiffon, fofinho, com creme. A fatia é R$ 15,80. Para encomendas, a confeitaria oferece diferentes sabores, recheios de coberturas. Minha sugestão é conhecer o verdadeiro bolo chiffon, simples mesmo, sem cobertura e recheio. Eu garanto que vai ser o bolo mais fofinho que você já provou.
Não é só o bolo. Claro, ele é delicioso, a decoração é impecável, bom atendimento. Só que mais que isso. A Chiffon Cake é um lugarzinho cativo em Curitiba, um ambiente agradável, com cheirinho de baunilha, música ambiente tranquila e alegre, cores pastéis. Ali, a experiência é completa. Para um café, uma conversa e momento para deixar um pouco o celular de lado.
1º bolo chiffon do Brasil
Yumi Fujikawa, de 49 anos, morou 19 anos no Japão. Foi lá que ela aos poucos foi se apaixonando pelo bolo Chiffon. “No Japão, o chiffon é um tipo de bolo que toda confeitaria tem. Para mim, era o bolo que eu mais gostava. Um bolo fofo, servido simples, com creme, com sorvete”, lembra.
Yumi voltou ao Brasil 13 anos atrás. Recém separada, ela entendeu que precisava de uma renda para sustentar a filha pequena, que na época tinha apenas dois anos. Resolveu trabalhar com gastronomia. “Eu tinha procurado sobre o bolo e não tinha nada, nenhum material em português sobre o bolo. Só em inglês, japonês. Aí pensei em tentar abrir uma loja especializada no bolo, pra ver. No início, quando coloquei a placa, as pessoas entravam, procuravam por ‘cupcakes’, achavam que era uma cupcakeria”, contou a empresária.
Aos poucos Yumi foi explicando o que era o bolo chiffon. Num trabalho de formiguinha mesmo, oferecia degustação, falava da técnica de como o bolo é feito. De início, Yumi queria servir o bolo como é no Japão, mas não rolou. “Aqui no Brasil, as pessoas gostam de mais açúcar, mais doce, mais recheio. A massa do bolo em si não tem, digamos, uma importância. As pessoas não dão importância para a massa, dão mais para o recheio”, revela.
Yumi queria que as pessoas prestassem atenção na massa, que é o diferencial da confeitaria dela. Os sabores mudam conforme a sazonalidade. Com a aproximação do inverno, muitos clientes já aguardam os novos sabores: bolo de quentão, de mimosa, de milho verde, queijo com goiabada.
“É um bolo super versátil. Claro que muita gente come e acha ele muito simples, mas é para quem tem paladar bem afinado. O que você tem que sentir é a maciez, perceber que ele é naturalmente úmido. Não precisa molhar esse bolo. A gente tem feito esse trabalho e assim, é o bolo que eu ainda mais gosto”, confidencia.
Peculiaridade no preparo
A fofura impressionante do bolo chiffon fez ele conquistar um apelido peculiar: bolo nuvem. No entanto, a peculiaridade mesmo dele está no preparo. Depois que ele sai do forno, ele esfria de ponta cabeça. “O nosso bolo não vai fermento, diferente do original. Ele cresce pela técnica e mistura de ingredientes. Fica de ponta cabeça para ter essa maciez toda. Quando você tira ele do forno, ele fica aerado. A gente não unta a forma, então ele gruda das paredes dessa forma e não cai quando esfria”, esclarece.
A cada dois meses, seis sabores diferentes. Yumi cria novos sabores, alguns best sellers da casa continuam. É o caso do bolo de pistache com amoras, “ele está no nosso cardápio há muitos anos”, revela.
Outra peculiaridade do bolo chiffon é exclusiva da Yumi. O amor que se transformou em bolo. O sentimento tem história com o vínculo com a mãe. “É uma forma de amor, a forma de amor através da comida. No meu aniversário, minha mãe fazia todas as comidas que eu gostava, uma forma de entregar amor. Quando nós abrimos, começamos eu e a minha mãe, Teresa. Ela faleceu há sete anos, mas boa parte das receitas são dela”, conta Yumi.
Não só os doces, os bolos, mas também os clássicos da Chiffon Cake. A receita de coxinha consagrada de massa de batata salsa é receita da Teresa. “Também a receita do molho da salada, do molho de pimenta, de alcaparras com alho”. A coxinha, aliás, detalho em outra oportunidade.
Chiffon: uma necessidade
A Yumi, quando conta o início da Chiffon Cake, lembra que a ideia nasceu de uma necessidade. “A chiffon não foi idealizada como negócio. Eu realmente queria trabalhar com alguma coisa e foi mais uma satisfação pessoa. No início não foi, no começo eu precisava para sobreviver. A chiffon foi uma escolha pessoal do bolo que eu mais gostava, e de que forma eu gostaria de ser atendida”, esclarece.
Com tamanha força de vontade, de querer dar certo, Yumi encarou desafios, apostou num produto pouco conhecido e delicado, um bolo que exige técnica. “O bolo chiffon não é um bolo que você consegue fazer em alta escala, como um pão de ló. Na hora de bater as claras, por exemplo, tem um momento certo para misturar os ingredientes. Isso não permite que você faça dez bolos de uma vez. O meu confeiteiro, quando eu pego um que já trabalhou em outro lugar, é muito mais demorado para ensinar. Isso porque o chiffon, como é muito macio, não é qualquer um que consegue confeitar”, conta Yumi.
É o bolo, mas é decoração, cuidado, desenho com estêncil dos pontos turísticos de Curitiba que decoram o prato. Com todos os cuidados, da água saborizada, ao ambiente, o passeio é um carinho a mais na rotina. É aniversário, vale o mimo especial.
Vai de bolo? Chiffon Cake
A confeitaria fica na Rua Jaime Balão, 130 – Hugo Lange. Funciona de segunda a domingo, das 10 às 20 horas. Encomendas pelo telefone: (41) 99897-6548.
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