Uma cearense, de jeito mineiro e coração enorme, cativa pela simpatia e principalmente pelo tempero. Ali na Riachuelo, quase em frente ao Paço da Liberdade, o tempero da Maria tem sido um dos meus preferidos na região. A comida deliciosa em si já é motivo mais que suficiente para uma recomendação do Rango Barateza.
Só que foi conversando com a Maria que acabei ficando surpresa com toda a história por trás desse restaurante. É muito mais que uma bela costelinha pururuca com couve e farofa. São coisas raras da vida. Vou contar os detalhes.
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Maria Lopes Bonamigo, de 52 anos, é a dona do tempero todo. Há 16 anos em Curitiba, ela e o marido vieram empreender na capital paranaense. Os dois moravam no Rio de Janeiro. Eles se conheceram no trabalho, no Porcão – umas das churrascarias cariocas super famosas.
Em 2003 o marido de Maria sofreu um AVC. Maria estava grávida de quatro meses e precisou dar toda a assistência a ele, que ficou com algumas sequelas, dificuldade para falar e também para andar. Como não tinha mais família no Ceará, ela resolveu deixar o Rio para morar com o marido na cidade natal dele, em Chopinzinho, interior do Paraná.
Chopinzinho é uma cidade pequena e pacata, de interior. Seria complicado crescer lá. A família se mudou para Curitiba com a esperança e o foco de empreender, errando o mínimo possível. “Procuramos um lugar no Centro, porque tinha mais movimento. Chegamos no auge do turismo, da revitalização do Paço, comércio pujante”, lembra Maria.
Com a proposta de comida afetiva, Maria e o marido apostaram em um restaurante de comida brasileira, mineira. São várias saladas e 16 pratos quentes, parte deles são fixos a cada dia da semana. Às terças, dobradinha e fraldinha na cerveja preta. Quarta-feira tem feijoada, quinta é dia de rabada com polenta e nachos. Sexta-feira tem costelinha de porco com barbecue. Aos sábados, a tradicional feijoada. O restaurante fecha aos domingos.
Pela disposição do buffet, pela organização, pelo cuidado no preparo, a gente percebe que há carinho na preparação toda. O que faz o tempero especial? Maria conta toda orgulhosa. “Aqui não trabalhamos com produtos industrializados. Não tem pozinho, nem ‘quadradinho’, nem nada. Tem gente que almoça toda semana aqui há 16 anos, e ainda vem no fim de semana com a família. Atingimos a parte mais importante das pessoas, que é a memória”, conta a empresária. Parte da fidelidade também vem pelo preço justo: R$ 24,90 o buffet livre de segunda a sexta, ou R$ 67,90 o quilo. Aos sábados, R$ 26,90.
A partir desta terceira semana do mês de outubro, uma nova unidade do Jeito Mineiro começou a funcionar, na região do Batel. Localizado na Rua Vicente Machado, o restaurante segue a mesma linha do restaurante da Riachuelo. Na nova unidade, o valor do buffet livre é de R$ 35,90 – de segunda a sábado. O valor por quilo é de R$ 68,90.
Justo reconhecimento
Pensa que é só no tempero que a Maria é detalhista e criteriosa? Que nada. O restaurante é muito organizado, bem cuidado, limpo. O respeito com as normas da Vigilância Sanitária e com a higiene sempre aconteceu, e foi aprimorado ainda mais na pandemia.
“Antes de preparar um negócio, a gente tem que se preparar, emocionalmente principalmente. Aqui nós fizemos uma escolha na pandemia. Saímos de 500 refeições para 30 marmitas por dia. Decidimos não mandar nenhuma funcionária embora. Todas as nossas funcionárias são mulheres, foi algo que acabou acontecendo mesmo. São mães, meninas, tem funcionária com mais de 10 anos aqui. A rotatividade é baixa. São nossas parceiras”, comenta Maria.
Com menor venda e num tremendo esforço para não baixar a qualidade nos preparos, o baque da pandemia assustou, mas passou. “Quando você empreende, o emocional precisa estar afinado. Tem que ter saídas, plano A, B, C. Graças a Deus deu tudo certo e estamos juntas de novo”, explica, aliviada.
A disciplina e o cuidado com o restaurante foi com o tempo reconhecido. No Jeito Mineiro, perto do caixa, vários selos, indicações, e qualificações conquistadas. Tem selo de categorização A da Anvisa, selo de sustentabilidade, de empreendedorismo do Sebrae, de turismo, muita coisa. “Quero que meu cliente veja e possa chegar e dizer, posso trazer meu filho, meu bebê, minha mãe idosa”, imagina.
O que você faria de graça?
Maria acredita ser uma pessoa privilegiada, porque trabalha com o que ama. “O que você faria de graça? O que você responder é o que você ama. Eu sou apaixonada por pessoas e comida. Em casa, minha cozinha é meu laboratório. Vivo aprimorando receitas”, revela Maria.
A empresária ama o que faz e tem um coração enorme. Por ter sofrido no passado, Maria se compadece e ajuda ao próximo com frequência. Semana passada, a forte chuva que passou por Curitiba deixou famílias desalojadas. Tiveram que sair das suas casas por causa da enchente e por isso estavam horas sem comer.
Maria conheceu a dor da fome e não hesitou em ajudar. Ela e as meninas do restaurante prepararam refeições para essas famílias e as marmitas foram entregues com a ajuda da Prefeitura. “Um menininho depois me mandou um recado, disse que foi a primeira vez que ele comeu comida de restaurante. Ele ficou todo alegre, convidei ele e os pais para almoçarem aqui quando tudo se ajeitar. São essas coisas, esse carinho, que motiva a gente”, reflete.
Quer conhecer o Jeito Mineiro?
O restaurante no Centro funciona de segunda a sábado, das 11 às 15 horas. Fica na Rua Riachuelo, 102 – sobreloja. Na nova unidade, o Jeito Mineiro fica na Rua Vicente Machado, 560. Também funciona no mesmo horário.
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