O que faz de um local uma boa recomendação para comer? Cardápio com opções em conta? Comida bem feita e bem preparada? Um bom atendimento e um bom ambiente? Memória afetiva e tradição? De maio até agora, já mês de dezembro, o Rango Barateza tentou diversificar opções para se comer bem e barato em Curitiba.

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Durante esses meses, na minha coleção de novos lugares, faltava fugir do trivial. Porque durante todo esse tempo, a gente vem descobrindo que nosso papel de contar histórias e tentar traduzir sabores tem conquistado uma importância relevante. Conversas e retornos dos leitores e entrevistados ajudam nisso tudo.

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No caminho rotineiro da semana, um lugar sempre chamou minha atenção no Centro Cívico. No horário do almoço ou no fim da manhã, o espaço está razoavelmente cheio. Depois de alguns meses tentando encaixar a visita do café na agenda, conheci finalmente o Fuga Café.

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Se a proposta era fugir do trivial, o destino foi certeiro. Um bom café, bons sanduíches, cuscuz como prato feito na semana e um delicioso brunch – refeição que une café da manhã com almoço – com inspirações nordestinas. O atendimento é rápido e a turma é bem humorada.

Em Curitiba, os cafés tem aparecido a cada esquina com propostas sempre parecidas. Um bom café gourmet com cookies, ou uma fatia de Red Velvet, de pão de fermentação natural – propostas que buscam aquele ideal norte-americano do café no copo descartável e um doce para acompanhar. No Fuga, a estrela que acompanha o café é especial e bem latina: o cuscuz.

Victor Pandolfi, idealizador, já trabalha com café há nove anos. Era consumidor cativo da bebida e durante algum tempo idealizou montar uma cafeteria. Ao lado da esposa Isadora, cearense, decidiu por criar um café que fugisse do trivial, com uma proposta de comida descomplicada e bem latina. Ele e a esposa então projetaram inaugurar o espaço em 2020, mas a pandemia veio e adiou tudo.

O Fuga Café abriu seis meses depois do previsto. O começo foi mais difícil que haviam imaginado, pois o capital de giro foi consumido pelos meses de aluguel do tempo de portas fechadas. O nome, a escolha mais difícil, faz referência o filme ‘Na Natureza Selvagem’ (2007) em que o protagonista em fuga busca espiritualidade. “A gente trouxe a ideia do filme para o café, o conceito, as plantas, as paredes, as cores”, revela Victor.

Aliás, as referências com cinema continuam. O sanduíche cubaninho do cardápio do Fuga Café é inspirado no sanduíche cubano do filme ‘Chef’ (2014). O protagonista, Carl Casper (Jon Favreau) abandona o comando de um restaurante badalado de Los Angeles para vender lanches em um trailer.

Na versão do Fuga Café, o sanduíche cubaninho (R$ 26) é feito com pastrami suíno marinado com coentro, queijo, picles de pepino, mostarda e manteiga no pão. Vem bem recheado, quentinho, com queijo derretido e crocância do pão – o sanduíche todo é finalizado na chapa. Se você curte coentro, aconselho provar. O sanduba é muito bom.

Sanduíche cubaninho. Foto: Eloá Cruz.

Cuscuz, a estrela – do barateza ao elaborado

Ahhh o cuscuz, se no nordeste a tradição é acompanhar o café com cuscuz – ou talvez o cuscuz com café, no Fuga ele é o carro-chefe. Na semana, de segunda a sexta no horário do almoço, ele é servido como prato-feito da casa e custa R$ 26 – preço acessível. O cuscuz vem acompanhado de vinagrete, banana frita, queijo coalho grelhado e ovo frito. Uma proteína que acompanha o prato costuma variar semana a semana, às vezes é uma carne de panela, ou carne de sol, cogumelos numa versão vegetariana.

Já no fim de semana o cuscuz vira brunch. E apesar de ser mais caro que na semana, ele vem acompanhado de café à vontade. A versão brunch nordestino vem ovos mexidos, queijo coalho e coentro – que pode ser retirado ou deixado de lado. Acompanha também granola, que todos do Fuga costumam dizer que é ‘a melhor do mundo’, feita com rapadura nordestina e acompanhada de frutas. Um bolinho de tapioca com coco, molhadinho e bem cremoso, também faz parte do combo todo que custa R$ 48.

A outra versão do brunch, vegana, vem com cuscuz com queijo de castanha e molho de tomate da casa, bolo gelado de tapioca com caramelo, frutas picadas com granola e café coado à vontade por R$ 52 – um ‘investimento mais elaborado’.

O cuscuz, que no início Victor e Isadora imaginaram que a aceitação seria baixa, teve um retorno surpreendente. Afinal, o curitibano não é acostumado a comer cuscuz. “No fim de semana, chegamos a uma média de 130 a 150 brunchs com cuscuz servidos por dia. O curitibano gosta muito dessa coisa mais europeia, nem tanto de coisas latinas. A aceitação foi surpreendente”, revela o empresário.

História entrelaçada com a pandemia

Se tem algo legal de toda a caminhada do Fuga Café é a amizade entre o pessoal do café e a clientela. Praticamente boa parte dos clientes que conheceram o Fuga no período da pandemia ainda visitam o lugar semanalmente. O lugar cativo não aconteceu ao acaso, foi construído.

“Criamos uma campanha na pandemia. Fizemos, ‘vacine-se que o café é por nossa conta. A galera vinha comemorar a vacina e tomava um café com a gente. Outra coisa foi com outra campanha, das pessoas desempregadas da pandemia. A gente oferecia um valor mais acessível. Temos também um posicionamento político muito claro. Prezamos aqui por um ambiente de qualidade e a indicação acaba que é orgânica”, explica Victor.

O café é uma proposta também planejada e bem pensada. É um dos poucos de Curitiba que não realiza a torra, mas mesmo assim faz uma boa curadoria de cafés brasileiros. “Todos os cafés servidos são trocados com frequência. São sempre cafés novos. Cafés de pessoas do ramo do barismo. Quem torra para a gente é tri campeão brasileiro de torra. Uma galera bem boa”, ressalta.

Mais dicas e sugestões

Para pratos mais elaborados, ou um rango barateza, a indicação da semana é o Fuga Café. Não deixe de experimentar o docinho queridinho da casa, uma barrinha de caramelo, com biscoito amanteigado e chocolate meio amargo (R$ 8).

Aproveite também as bebidas geladas, o famoso Papelon – bebida popular venezuelana que combina rapadura com limão e gelo (R$ 14).

*Os valores do cardápio divulgados no post são de dezembro de 2023 e podem sofrer alterações.

Vai um café? Fuga!

O Fuga Café fica na Rua Senador Xavier da Silva, 417 – Centro Cívico. Abre de terça a sexta-feira, das 10 às 19 horas, e sábados e domingos, das 9 às 18h30. Fecha às segundas-feiras. Telefone (41) 99839-3302.

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