Armazém Califórnia: as mais tradicionais esfirras do Centro de Curitiba por R$ 6

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Foto: Eloá Cruz.

Se estiver dando banda lá pelos lados da Catedral, sugiro matar a fome no Armazém Califórnia, ali na Saldanha Marinho. Posso garantir que será os R$ 6 mais bem investidos: uma bela esfirra de carne, macia, bem temperadinha com tomate, cebola e especiarias. Pode ser também uma de coalhada seca (R$ 6,50), de zaatar (R$ 7,50), ou um quibe frito bem sequinho, temperado, que em cada mordida a carne desmancha (R$ 7,00). Comida boa, tempero bom, atendimento excelente, preço honesto.

No caixa, se você tiver sorte, vai encontrar seu Maged, que cuidadosamente analisa a comanda do cliente e soma sem pressa e à mão todos os pedidos. Com 80 anos, a calculadora mental do patriarca da casa está em dia. Foram muitos anos, praticamente 40 deles, em que esteve atrás do balcão somando contas.

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A história do Armazém Califórnia começa com ele – é, mais ou menos. No início, não havia esfirras nem quibes. Maged Khalil El Omairi chegou em Curitiba em 1965. Abriu uma panificadora no Terminal Guadalupe, que era a antiga rodoviária da cidade. Além dos pães, Maged resolveu vender frutas, secos e molhados.

O espaço logo ficou pequeno e Maged mudou-se para a Rua José Bonifácio, 67. A panificadora virou armazém, o Armazém Califórnia. Com o passar dos anos, o comércio de Maged ficou conhecido como uma das casas de frutas mais tradicionais de Curitiba. Assim seguiu até 2006.

Maged Khalil El Omairi, à direita, em 1965. Foto: arquivo pessoal.

“Ele se aposentou, fechou em abril de 2006. Em agosto eu dei continuidade ao trabalho”, conta o filho, Khalil El Omairi Neto, de 47 anos. Formado em administração e técnico de edificações, Khalil saiu da área que trabalhava para retomar a ideia do pai, do armazém.

A ideia era vender frutas, verduras, grãos, azeitonas, tomate seco, palmito, pepino em conserva, etc., etc. Khalil quis resgatar um armazém à moda antiga. Mas assim, do jeito que ele pensou originalmente, não vingou.

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Foi num pequeno acaso do cotidiano que o destino deu a dica. “Minha mãe fez umas esfirras para a gente almoçar um dia e acabou sobrando algumas. Eu coloquei para vender no armazém, umas dez esfirras, não demorou muito para que todas fossem vendidas”, recorda Khalil.

No dia seguinte, quem experimentou pediu. “‘Amanhã eu faço’, fiz dez esfirras para um cliente. E ele veio, levou. Comecei devagarzinho. Depois comecei a fazer 50, vendia no balcão, junto com o armazém. Veio também o quibe frito. Era uma demanda bem pequena”, explica o proprietário.

O famoso quibe do Armazém Califórnia ganhou a fama do jeito antigo: no boca a boca. Aos poucos, quem ficava sabendo das esfirras e quibes queria experimentar, conhecer.

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Um dia, seu Maged resolveu cozinhar para a família – não posso esquecer de dizer que ele é cozinheiro de mão cheia. “O pessoal sentiu o cheiro e resolveu entrar. Nossa cliente antiga e amiga, Lúcia, irmã do Requião, trouxe umas pessoas aqui. Coloquei nove pessoas para almoçar arroz com lentilha. O pessoal gostou tanto que disse que voltaria na próxima semana. Minha mãe me disse: ‘faça o prato’. E na outra semana vieram mais. Tivemos que comprar mesas, cadeiras, vieram 14 pessoas”, revela Khalil.

Aos poucos, os almoços ficaram frequentes – a cozinha com panelas simples e fogãozinho pequeno foi ganhando melhor estrutura. No começo, às quintas e sextas, depois mais terças e quartas. Atualmente, o Armazém Califórnia oferece almoço de segunda a sábado.

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Os pratos foram sendo adaptados e Khalil passou a comandar a cozinha. “Aprendi na marra. Meu pai precisou ir ao Líbano. Ele faz quibe cru, as pastinhas, homus, como ninguém. Fui aprendendo a fazer. Hoje todos os pratos, quem faz e elabora, sou eu”, conta Khalil, orgulhoso.

Se antes, Khalil imaginava continuar o trabalho do pai com um armazém de secos e molhados, hoje com o restaurante revela estar realizado. “É um sucesso de segunda a sábado. Semana passada, tivemos 67 nomes na fila no sábado. A fila de espera de duas horas. Tenho 40 lugares sentados e a gente chega a vender 200 refeições no dia”, diz.

Foto: Eloá Cruz.

Tempero especial, das montanhas do Líbano

Quem ama comida árabe consegue perceber a diferença de tempero e sabor entre restaurantes. Há pratos leves, com temperos bem suaves, e há também pratos com sabores mais intensos – ainda sim equilibrados.

Seu Maged é libanês e da região de onde veio, montanhosa, os pratos são bem temperados. O sabor único do Armazém Califórnia vem de família. Durante muitos anos Maged morou sozinho, por isso suas habilidades na cozinha são excepcionais.

Khalil, o filho, já criou mais de 15 pratos diferentes – que compõem o cardápio flexível da semana no restaurante. A inspiração vem de viagens, de visitas em restaurantes árabes, de Curitiba, de outros estados, pelo mundo. “Tenho pratos que as pessoas vêm no dia só para comer aquele prato. Vou criando pratos, trazendo novidades. Não tem nada de livro de receitas, eu crio tudo. É muito legal”, conta, empolgado.

Quer conhecer o Armazém Califórnia?

Horário de atendimento: de segunda a sexta-feira, das 9 às 19 horas. Sábado, das 10 às 17 horas. Almoços de segunda a sexta, das 11h30 às 15 horas, e sábado das 11h30 às 15h30.

Endereço: Rua Saldanha Marinho, 68 – Centro.

*Os valores do cardápio divulgados no post são de maio de 2023 e podem sofrer alterações.

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