Você já parou para pensar em como rotulamos nossas emoções como boas ou ruins? Tristeza é ruim, felicidade é boa. Arrependimento, desapontamento e vergonha estão no lado negativo, enquanto animação, orgulho e gratidão estão do lado positivo.
Se você é uma pessoa normal (sem ofensas, por favor, não me mande um e-mail), provavelmente categorizou essas palavras emocionais em termos de “bom” e “ruim” em sua mente. No entanto, quero educadamente lhe dizer por que você está equivocado e mostrar o quão prejudicial esse processo de categorização intuitiva pode ser.
>>> Não se cobre tanta perfeição; permita-se ser iniciante
Vamos pegar a emoção “tristeza” como exemplo. Normalmente, consideramos a tristeza como algo negativo, e isso faz sentido em muitos casos. Afinal, quem deseja se sentir triste? Mas agora, imagine por um momento que você está em um funeral de um ente querido. Sinto muito pela sua perda. No entanto, me responda: o que você sente?
>>> Será que sou uma fraude? O que é a síndrome da impostora
Como terapeuta, tenho que fazer essa pergunta. Ah, você está se sentindo triste? Bem, nesse contexto, isso é completamente compreensível. Na verdade, seria estranho se você não se sentisse triste. Se você estivesse, de alguma forma, se sentindo feliz, ou pior, indiferente, isso seria motivo de
preocupação.
Nesse contexto, você provavelmente descreveria esses sentimentos “felizes” ou “neutros” como “ruins”. Aqui está o problema: nossos rótulos para emoções, como “triste = ruim”, podem mudar rapidamente dependendo do contexto. Isso nos leva a cometer um erro terrível.
+ Leia mais: A confiança começa com a capacidade de perdoar a si mesmo
Eis o meu argumento: através do condicionamento social, criamos categorias inadequadas (gosto de chamar de “baldes de palavras”) para nossas emoções. E, de maneira cruel, nosso “balde bom” parece estar sempre vazio, enquanto nosso “balde ruim” fica cheio até a borda.
No entanto, entenda que você é a pessoa obcecada com esses “baldes” em primeiro lugar. É por isso que algumas terapias cognitivo-comportamentais e contextuais, como a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), encorajam as pessoas a abandonar a rotulagem de suas experiências emocionais. Afinal, os rótulos para emoções são altamente dependentes do
contexto. Alguns até afirmam que a própria rotulagem torna a experiência desagradável.
>>> Como ter uma vida social, sendo antissocial?
Vamos simplificar: “agradável” vs. “desagradável”. Sim, entendemos que a ansiedade é desagradável. Mas, se você estiver sentindo ansiedade enquanto é perseguido por um assassino com um machado, isso é uma coisa boa, porque seu instinto de sobrevivência está funcionando. Por outro lado, alegria é agradável, mas se você sentir alegria quando um amigo diz que foi demitido, isso é insensível e questionável em termos de caráter.
Então, qual é o benefício a longo prazo de abandonar os rótulos “bom” e “ruim” para nossas emoções? Vamos imaginar nossas emoções como visitantes não convidados por um momento. Essa metáfora ressalta a natureza temporária, inesperada e incontrolável das emoções.
Imagine acordar um dia e encontrar a vergonha como um visitante. O espelho não reflete a imagem que você deseja. Você se compara aos outros. Se arrepende de não estar mais adiantado na carreira. Essas são experiências emocionais comuns durante episódios depressivos. O “balde ruim” começa a transbordar e a situação fica insuportável.
+ Leia mais: A complexidade do amor: como lidar com a necessidade de distância em seus relacionamentos
Eu mesmo não sou imune a esses sentimentos. Mas, ao lamentar a presença exclusiva desse visitante indesejado – que não podemos expulsar, não importa o quanto tentemos – perdemos a oportunidade de entender a complexidade das mensagens que essa emoção está tentando nos transmitir. Não percebemos o propósito da visita da vergonha.
O nosso cérebro, ou poderíamos dizer o nosso “coração”, talvez esteja nos dizendo que é hora de tomar uma atitude física. Talvez seja hora de buscar orientação de um colega. Talvez essa emoção esteja nos motivando a assumir responsabilidades extras. Se conseguirmos fazer isso, estaremos reconhecendo não apenas a utilidade da vergonha, apesar de ser
desagradável, mas também estaremos tratando o que a medicina moderna rotulou como depressão.
Desafio a nós mesmos a procurar o valor de nossas emoções – como um indicador no painel de nosso carro – mesmo quando elas causam desconforto.
Uma terapia adequada pode ajudar a navegar nessa tarefa de forma empática, reconhecendo o sofrimento legítimo que acompanha a presença do visitante indesejado. No entanto, a terapia nunca deve buscar transformar diretamente emoções “ruins” em emoções “boas”.
Na verdade, nenhum desses “baldes” realmente existe.
Siga-me em @paulamaiapsi e faça parte de uma comunidade que valoriza o pensamento com afeto e busca uma vida mais plena e significativa. Juntos, podemos compartilhar inspirações, trocar experiências e construir um espaço de apoio e crescimento mútuo. Não perca a oportunidade de se conectar e participar dessa jornada de autodescoberta e transformação.
Te espero no Instagram!