Não tem lugar do mundo gente para botar apelido como os moradores de Paranaguá. Dizem os entendidos em Litoral que isto não é novidade. O ex-prefeito local, Mário Roque, quando chegou por aquelas bandas, aportou a bordo de um Fusca branco. E como Roque era ruivo, cabelo de fogo, não demorou a ganhar um apelido: Ovo Frito. Ou seja, ele era a gema vermelha sobre a clara branca, que era o Fusca. Em outra circunstância, um time jogava em Paranaguá e o técnico chamou no banco de reservas um sujeito meio encolhido, moreninho e de cabelo lustroso e da arquibancada veio o apelido: “O técnico vai colocar o Barata”. O sujeito não gostou, mas o apelido pegou.

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Ficou famosa a história que o jornalista Jamur Júnior contou há anos de uma aposta feita na Boca Maldita. Nicolau dizia que o parnaguara era gênio para colocar apelido e Aristeu dizia que não era bem assim e que este hábito existe em todos os lugares do mundo. Nicolau insistiu na hegemonia da cidade paranaense na fixação de apelidos. A conversa avançou para discussão e quase houve briga, até que tudo se resolveu da seguinte forma: Aristeu desafiou Nicolau. Disse que passaria seis dias em Paranaguá e voltaria sem apelido. Nicolau achou seis dias pouco para ganhar um apelido. Mas não podia voltar atrás e sacramentou a aposta que ficou nas mãos de um terceiro.

Aristeu foi para Paranaguá preocupado em garantir o resultado. Primeiro, ele não ia se expor. No futebol isto se chama ferrolho ou retranca, um sistema defensivo criado para o time não levar gols e sair com empate ou vitória num raro contra-ataque. Aristeu se hospedou num hotel, não fez amizade com ninguém. Ele levantava de manhã, sempre às 7 horas, abria a janela, botava a cabeça para fora, respirava o agradável ar matinal, fechava a janela, voltava a dormir até meio-dia, quando almoçava, dava uma volta na cidade e no fim da tarde, voltava para o hotel, jantava e dormia. Foi assim durante seis dias. Tudo tranquilo. Ao fim de seis dias, fechou a conta no hotel e voltou para Curitiba. Feliz da vida porque voltava sem apelido.

Primeira coisa que fez foi ir à Boca Maldita, encarou Nicolau e disse: “Voltei, sem apelido. Ganhei a aposta”. Nicolau não acreditou. Pediu comprovação. O desafiante mostrou notas do hotel, fotografias, coisa e tal. Esteve em Paranaguá. Nicolau achou que tinha coisa errada. Ele ligou para o hotel para saber o que aconteceu. O telefone no viva voz para Aristeu ouvir: “Escute, aqui é de Curitiba. O senhor Aristeu da Silva se hospedou aí no hotel?” O gerente quis saber como ele era e Nicolau descreveu o desafiante. O gerente respondeu: “Ah, é o Cuco! Gente boa. Ele não incomodou ninguém. Mas toda manhã às 7 horas ele abria janela, botava a cabeça pra fora e fechava a janela. Só faltava cantar: cuco, cuco, cuco”. Aristeu não acreditou no que acabou de ouvir. Ele ficou seis dias, não abriu o bico e mesmo assim ganhou apelido.

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Há poucos dias o meu amigo Jorginho foi a Paranaguá ver um jogo. O sujeito da Federação Paranaense de Futebol à beira do gramado demorou em avisar o juiz que um novo jogador ia entrar para o jogo e a torcida local preocupada, porque o time estava perdendo. O sujeito com uma peruca preta para oculta a careca demorou demais com as placas nas mãos e alguém da arquibancada berrou: “Ô Zacarias, chama o juiz, se não o jogo termina e o garoto não entra”. O garoto entrou, mas o apelido do cara das placas grudou na hora. O jogo terminou e não teve jeito. Todo mundo ria do sujeito que era a cara do Zacarias dos Trapalhões. Jorginho disse: “Rapaz, coisa de louco! O pessoal olha para o sujeito e sapeca um apelido. Agora o cara da Federação está preocupado, querendo saber se o apelido vai grudar”. Eu perguntei para o Jorginho o que ele disse para o cara da Federação. Jorginho respondeu: “Eu disse, olha Zacarias, eu não sei se o apelido vai ficar”. Mas quem ouviu riu na hora. Na realidade, o apelido já tinha grudado no Zacarias mais que a peruca em sua cabeça. Qualquer vento levava a peruca, mas nada tirava o apelido do sujeito.