Esperava o ônibus no ponto da Marechal Floriano, quando apareceu uma loira. Eu a vira outras vezes. Jovem, bonita, seios turgidos e pernas rijas. Altiva e calada. Fiquei na minha, mas um velhinho que chegara antes, embora não fosse assanhado, encarou a loira que procurava algo na bolsa e perguntou: “Desculpe, senhorita! A moça é prendada?”. Não sei o que a moça pensou e nem o que o velho queria, mas ela fez cara de quem recebeu convite para ir a um daqueles hoteis nas proximidades do Terminal Guadalupe que hospedam casais em busca de prazer físico momentâneo.

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Ato contínuo a loira fechou a bolsa, não respondeu nada e foi embora, mais ofendida que humilhada, embora eu tivesse convicção de que ela não soubesse o significado da palavra prendada e que presumia ser um palavrão cabeludo. O velhinho ficou constrangido e perplexo: a maioria das moças de hoje não é prendada e em muitos casos não sabe o significado desta palavra. Certamente foi isso o que velhinho pensou.

No meu tempo de criança os garotos se preocupavam em aprender a andar de bicicleta porque também era útil para ser entregador de recados ou de compras em armazéns de secos e molhados. Eles ainda entravam em escolas de datilografia ou aprendiam ofícios com os pais, se fossem carpinteiros, mecânicos, consertadores de relógio, vendedores de frutas e mais uma série de atividades. As moças se preparavam para ser prendadas. E o que é uma moça prendada?

É uma moça apta, habilidosa, capaz, talentosa, dotada, preparada, entre outros adjetivos. As moças se preparavam para o casamento. Além de dote, nos casos mais antigos, de enxoval, também chegavam sabendo fazer coisas úteis para a nova vida, como costurar, cozinhar e no caso das que queriam trabalhar fora, eram normalistas. A normalista era a futura professora.

As normalistas eram normalmente educadas, sofisticadas, delicadas e depois de formadas preenchiam vagas num Brasil carente de professoras. Algumas eram muito bonitas e, neste caso, sempre acompanhadas de seus pais. E se casavam com funcionários do Banco do Brasil, que na época era um dos empregos mais disputados pelos jovens de classe média. Algumas seguiam outras profissões. Leila Diniz, por exemplo, foi normalista. Ela abandonou o magistério nos anos 60 para ser atriz. “Prenda minha” foi também música de sucesso com Inezita Barroso, uma Leila Diniz dos anos 50.

A música tinha o seguinte refrão: “Vou me embora, vou me embora, prenda minha, tenho muito o que fazer”. Neste caso, prenda é sinônimo regionalista no Rio Grande do Sul para garota ou moça que faz par com o peão.

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