Não é preciso ser gênio em comunicação contemporânea para descobrir que os assuntos que mais fazem sucesso na internet são os frívolos e ligados ao sexo, principalmente sacanagens. Os portais sabem disto e investem em consultoras de sexo que podem até ser homens que assinam colunas com nomes de mulheres. Este truque é velho. Rubem Fonseca usou em um de seus contos. E um amigo meu, falecido, antes de existir internet se divertia escrevendo horóscopos sem nunca ter feito mapa astral e sem saber a diferença entre Libra e Capricórnio. Na busca pela audiência qualquer arma é válida. Então, não vamos demonizar a internet. A nova tecnologia facilita a prática. Ontem o portal IG tinha matéria sobre “os 24 tipos de beijos que as mulheres adoram” e “as 30 posições sexuais que as lésbicas mais gostam”.
No caso das lésbicas com o esclarecimento: “Sexo é muito mais do que a clássica tesourinha. Aprender novas posições e explorar outras possibilidades pode ser a solução para apimentar a relação com a parceira. Veja o guia para todos os gostos e inspire-se”. Heterossexuais de ambos os sexos não deixam de dar uma olhada, para se informar, por curiosidade ou para se inspirar. Afinal, como diria o apresentador Chacrinha, na televisão nada se cria: tudo se copia. E fora dela também. Na internet muito mais. Assunto sobre mulher na internet é audiência garantida. Se for sem roupa, melhor. Até sobre roupa de mulher a coisa rende. E não podia faltar ela, a calcinha. A última peça entre o objeto do desejo e aquele que deseja. Ontem tinha artigo sobre calcinhas no portal MSN.
Tinha revelações divertidas sobre as inconveniências do fio dental. O filão “calcinha” rende. Há vários artigos sobre o assunto que destacam, entre outros, preocupações sem muito rigor científico. “Na hora de escolher a lingerie, aposte na cromoterapia”. Eu nunca vi artigo profundo sobre cromoterapia dos carros, mas de calcinha tem. “O significado das cores e a cromoterapia são assuntos que toda mulher conhece, mas que normalmente não são levados muito a sério na hora da escolha das roupas e muito menos da lingerie, tirando o Reveillon quando todo mundo aposta no amarelo para fortuna, rosa para o amor, vermelho para a paixão e branco para a paz”. Nem o personagem de Rubem Fonseca escreveria melhor. Eu comentei com uma amiga e ela disse: “Eu li um artigo sobre que calcinha usar para um jantar com vinho tinto”. Tem tanta informação que dá para fazer enciclopédia sobre o assunto. Inclusive informações úteis sobre higiene e cuidados. Mas estes são minoria, claro.
