Num primeiro momento pensei que fosse sacanagem de João Sinclair. Em seguida, percebi que falava sério. Ele é um cara simpático, bem apessoado, todo mundo gosta dele e o conheço há tempo. Mas na correria do dia-a-dia, o tempo passa e eu não o vejo há anos. Isto acontece com outros amigos. E acredito que seja fenômeno que se repete com muita gente. A vida moderna impõe um ritmo alucinante.
Mas nesta semana eu o encontrei na Boca Maldita e ele perguntou: “Por que você não passa lá? Você sabe onde me encontra, você tem meu endereço, mas você não passa lá”. Eu perguntei se ele virou cantor sertanejo, ele disse que não. Perguntei onde era esse “lá” que eu devia passar e ele disse que era a casa dele. E, finalmente, perguntei porque devia passar na casa dele. Ele explicou, fazia sentido, só que não sabia nada e não podia passar lá.
Seguinte: João Sinclair se separou há alguns meses da mulher, mora sozinho e passou a beber feito um gambá. Roteiro que deve acontecer na vida de outras pessoas. Mas Sinclair tem uma qualidade: quando ele bota uma coisa na cabeça, faz. Ele é de uma capacidade de fazer uma curva de noventa graus na vida e evitar a colisão, que é coisa de louco. Ele parou de fumar de uma hora para outra e nunca mais pitou nem cigarro de palha e muito menos de maconha.
Um dia ele chegou em casa e disse para as garrafas de bebidas do bar na sala: “Meninas, a farra acabou”. Acabou mesmo. Estava bebendo demais e decidiu parar. Só ia beber no social. Este social tinha um código rigoroso: nem um gole antes do sol se pôr, nem um gole antes de sair do trabalho e muito menos antes de entrar, nem um gole antes de dirigir, o que eliminava beber em bar e fora de casa, porque tinha que voltar dirigindo para casa. Resumindo, beber só à noite e em casa.
E tinha ainda mais um artigo do novo bebedor João Sinclair. Beber em casa com amigo ou amiga, para não beber demais ou sucumbir à tentação de começar e não parar. Aí começou o drama de João Sinclair. Os amigos não foram avisados e não apareceram: “Eu comprei umas cervejinhas importadas, caras, que estão lá geladinhas me esperando. Dá vontade de beber uma, mas ninguém aparece em casa. Nenhum amigo. Não falo das amigas, que amigas normalmente não visitam amigos e quando se trata de namoradas, elas não vão em casa beber, se é que me entende”. Eu entendi, mas não podia fazer nada. Está mais fácil eu ir pra Lua tomar uma cervejinha. Ando trabalhando muito, estou cansado e dormindo cedo. Mas achei curioso o drama do amigo.