Você lembra o que ou com o que sonhou esta noite?

Um dos maiores enigmas do homem são os sonhos. Eles são misteriosos, cheios de significados e estão em várias partes da Bíblia e na literatura. A desgraça de Hamlet começa com um sonho no qual seu pai aparece para dizer que foi assassinado pelo próprio irmão num crime perfeito não fosse ele próprio vir do além para contá-lo. Um dos trabalhos mais importantes do século 20 foi o livro “A Interpretação dos Sonhos”, de Sigmund Freud. Já li que a gente sempre sonha, mas que se lembra de alguns sonhos e não de todos. Já li também que animais sonham. E já li que se a gente não sonhasse, a gente ficaria louco porque os sonhos seriam uma espécie de escapamento da nossa cabeça, eles soltam aquilo que fica entupido no inconsciente. Quem disse isto foi o Freud.

Todas as nossas frustrações e desejos não realizados, aquilo que poderia se transformar num tremendo combustível para enlouquecer a gente é liberado pelo inconsciente durante o sonho. Eu me lembrei de tudo isto porque o Jaime Fortunato veio me contar na manhã de ontem o sonho que teve na noite anterior. E como ocorre nestes casos, era um sonho estranho. Ele disse: “Cara, você não vai acreditar, mas eu sonhei que estava comendo o nariz da mãe do Arthur”. Foi um sonho rápido, mas intenso. Destes que quando o sujeito vai contar a coisa espicha que não acaba mais. “A mãe do Arthur morreu, mas ele ficou com pena de enterrar ela com o nariz e assou o nariz dela, colocou num espeto e me deu”, disse Jaime. “O nariz estava gostoso. Parecia espeto com carne de galinha e eu comia com grande prazer”, acrescentou.

Eu achei aquilo um horror, um espanto, mas ele me explicou porque também não se horrorizou: “Claro que eu comia aquilo sem saber que era o nariz da mãe do Arthur”. Então eu entendi o prazer com que ele comia o nariz da mãe do Arthur. Jaime disse que no sonho quando o Arthur informou que o amigo estava comendo o nariz assado de sua mãe, Jaime parou e ficou com ânsia de vomito. “Pior que eu estava quase no fim do espeto e não tinha coragem de comer o resto do nariz da mãe dele”, informou. Uma situação constrangedora no sonho: Arthur olhava esperando que Jaime comesse o resto do nariz da mãe dele e Jaime sem coragem de comer o resto. “Por fim, vendo que ele estava ficando bravo porque eu estava com nojo de comer o resto do nariz da mãe dele, eu fechei os olhos e comi o que sobrou tentando pensar que era gostoso como eu pensava antes de saber de que se tratava”.

O sonho acabou e Jaime acordou suado e angustiado, mas rapidamente ficou feliz porque descobriu que era apenas um sonho. E como o leitor já deve ter dito muitas vezes: “Mas que sonho estranho! Ainda bem que foi apenas um sonho”. Mas os sonhos são assim. Tem sonhos que a gente não lembra. Tem sonhos malucos que a gente lembra como é o caso do Jaime. E às vezes a gente sonha algo que nos deixa transtornados. São os pesadelos. Uma vez eu sonhei com uma cachorra que eu tive há doze anos antes do sonho. Eu estava numa estrada e ela corria atrás de mim. Eu de carro e ela correndo. Parei o carro, ela me alcançou, pulou em meus braços, me lambeu os braços e morreu. Pode parecer uma cena comum, um pouco tocante, um pouco banal, mas foi um pesadelo, porque fiquei transtornado.

O pesadelo se repetiu várias noites no final de 2007. Então um dia meu filho apareceu em casa com uma filhota de cachorra. Eu não gostei porque moramos em apartamento. Ele insistiu e a cachorra ficou. Foi então que eu percebi: depois que ela entrou em casa, eu parei de ter pesadelos. Qual o significado disso? Não tenho a menor ideia. Qual o significado do sonho do Jaime? Ele não tem a menor ideia. O suíço Carl Jung, um dos cardeais da psicologia, dizia que existem dois tipos de sonhos, os comuns que são aquilo dito acima, um escapamento de nossa mente e os sonhos reveladores. Estes sonhos estranhos que nos deixam perplexos, querendo saber o seu significado. Os últimos, segundo ele, seria uma espécie de aviso de nosso inconsciente de que precisamos mudar alguma coisa em nossa vida. Um recado que nosso próprio corpo dá de que estamos pisando no tomate. Pois é. E aí, você lembra o que ou com o que sonhou esta noite?