Há quatro semanas estive em Maringá para resolver problemas pessoais. Meu pai morreu em dezembro do ano passado aos 84 anos e tive que assinar documentos. Resolvi o assunto de manhã e depois fui para a região do centro da cidade onde tinha certeza de encontrar um conhecido. Meu objetivo era saber o paradeiro de Roderley, o refinado quarto-zagueiro campeão pelo Grêmio de Maringá em 1964 e que jogou ao lado de Nico na zaga do Coritiba. Os velhos Coxas sabem de quem estou falando. Nico definiu Roderley assim: “Era o falso malvado. Quando o atacante pensava que ele ia dar uma pancada, ele recuava a bola e depois enfiava a bola entre as pernas do sujeito”. Nico deu risada marota e completou: “O cara ficava humilhado”.

continua após a publicidade

Era este o cara que eu procurava. O primeiro sujeito que encontrei na área foi Baianinho. Com a banca de engraxar sapatos e a velha panca despojada. Desde que me conheço por gente, Baianinho reina na área, desde os tempos do Cine Maringá, Bar Ipiranga, Confeitaria Copacabana. O tempo passou e Baianinho estava mais inteiro que nota de dez. “Roderley passa por aqui geralmente de manhã. Já veio e já foi”, disse ele. Ele conhece todo mundo que anda por ali, lugar da cidade com a mesma simbologia da Boca Maldita em Curitiba. Quando eu pensava em me retirar, eu vi o Zé. É boleiro das antigas em Maringá. Jogou no Ferroviário na última partida de Sicupira com a camisa do Boca Negra e também na Mourãoense.

Zé conhece todo mundo, ainda hoje. Perguntei por Roderley, Maurício e ele, muito atencioso, foi falando dos caras e de outros. “Adoilson está na cidade”, informou. Adoilson é aquele que jogou no Paraná Clube. Paranista sabe de quem estou falando. “O Itamar também está aqui”, acrescentou. Itamar foi o centroavante que marcou o gol de empate contra o Coritiba em 1977 no Couto Pereira, que deu ao Grêmio de Maringá o último título de campeão paranaense. Jogou no Palmeiras, Marília e Londrina e treinou meio mundo. “Wilson Capetinha é outro que ainda por aí. O filho dele é boleiro”, acrescentou. “Tem muita gente por aí. Célio, Oliveirão…”, disse ele. “Oliveirão? Que bacana!”, respondi. Oliveirão foi lateral nos bons tempos de 1963 a 1965.

Falamos de tanta gente viva que chegou a vez de lembrar alguns mortos, até por respeito e consideração. “E o Didi, hein rapaz, foi embora tão novo”, observei com cara de velório. Didi, cujo nome era Valdir Manuel dos Santos, foi um dos maiores meias do futebol paranaense. Craque! Quem viu jogar sabe do que estou falando. Ídolo de primeira no Grêmio Maringá e no Atlético Paranaense. Morreu jovem, em 2007. Zé respondeu: “Pois é! Didi foi muito novo, rapaz. Aquele sabia”. Aí cismei de falar de Pinduca. Eu fiquei sabendo há muitos anos que o beque central campeão paranaense três vezes – uma pelo Comercial e duas pelo Grêmio – tinha morrido. Eu acrescentei: “Era um becão. Tipo malvado. Assustava qualquer um. Que Deus o tenha”. Zé falou: “Vixi, rapaz! Apaga tudo. Também me disseram que Pinduca morreu. Mas ele tá vivo”.

continua após a publicidade

Eu disse: “Brincadeira! Para com isso! Faz mais quinze anos que me disseram que o Pinduca tinha ido pra grande área lá de cima! Tenho amigo que até rezou por ele”. Zé balançou a cabeça: “Mas não foi. O negão é duro na queda”. Eu perguntei: “Como é que você sabe?”. Zé contou que há alguns meses andava pelas ruas de Santos na maior tranquilidade, quando, de repente, vê o negão bem na frente dele. Zé gelou da cabeça aos pés. Não podia ser. O cara estava morto. Mas o sujeito andava que nem vivo, ria que nem vivo e vinha na direção dele – que nem vivo. Zé tinha certeza: era Pinduca. Grandão, negão, fortão. Com cara de beque malvado. Zé gaguejou: “Pinduca, o que você faz aqui? Você não está morto?”. Pinduca riu e respondeu: “Não, Zé. Eu estou vivo. E inteiro”. Zé ainda perguntou: “Mas quem morreu então?”. Pinduca respondeu: “Foi o Pinduquinha”. Que era irmão dele e tinha o mesmo apelido. Eu fiquei feliz por saber disso. Mas não queria levar o susto que o Zé levou.