Eles mataram milhares no cinema. Milhares de pessoas, de soldados ingleses, a afegãos, vietnamitas e nazistas, sem contar pessoas que não tinham nada com isso e estavam apenas nas ruas quando eles apareceram com seus carros justiceiros ou suas motos em alta velocidade, derrubando tudo. Eles não têm medo de cara feia e acabam com alienígenas, vampiros e tudo mais. Eles fizeram isso nos últimos quarenta anos e agora na velhice em vez de sossegar o facho e ficar em casa vendo filme ou ir para um asilo, eles se juntaram num último esforço para continuar fazendo o que sempre fizeram: sair por aí dando pancada em todo mundo, destruindo prédios e explodindo o que julgar que merece ser explodido.

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Estou falando da incrível trupe que faz parte da franquia “Os Mercenários”, cuja terceira versão estreia na próxima quinta-feira. A lista de atores de primeira linha em filmes de aventura é longa. E reúne sujeitos conhecidos por qualquer um que foi ao cinema nos últimos trinta e cinco anos: Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Harrison Ford, Mel Gibson, Antônio Banderas, Wesley Snipes e Jet Li. Quem for ver a fita, sabe que vai encontrar um prato recheado de pancadas. Como em todo grupo escalado por Hollywood para uma boa fita, tem que ter mulher bonita. Este também tem: Ronda Rousey, que pode ser gostosa, mas arranca a cabeça do primeiro cretino que dizer isto para ela – e se ela não for com a cara do cretino, claro! Ronda na vida real dá pancada a torto e a direito num octógono de MMA.

O grupo é numeroso e a trinca acima justifica que se pode dizer do filme: ele pode não ser bom, mas traz um time da pesada que tem tiros e socos como trunfo. Muitos destes atores fizeram filmes antológicos. Alguns de categoria. E muitos estão entre as melhores bilheterias dos últimos trinta anos. Pode parecer brincadeira elencar estas coisas aqui, mas é justamente o passado que ressuscita estes velhinhos. Claro que o filme vai levar bom número de pessoas às salas de cinema porque ele foi feito para isso e a indústria cinematográfica americana não brinca em serviço. Ela sabe que basta botar um enredo ao redor de sujeitos como Harrison Ford, que pode estar velho, mas os velhos admiradores de Indiana Jones e do contrabandista Han Solo de “Guerra nas Estrelas” não vão perder a oportunidade de ver o ídolo. Afinal, ele está escrevendo seus últimos capítulos na história do cinema.

Assim como os fãs de Arnold Schwarzenegger vão conferir se o sujeito que foi mau e bom na franquia “Exterminador do Futuro”, que foi “Conan” e também governador da Califórnia, ainda dá conta do recado. Aos 66 anos toda aquela musculatura que exibia e que fez dele um ator de grande expressão corporal teoricamente deve andar meio flácida – ele vai provar o contrário, com certeza. E que dizer de Rambo, quero dizer, Rocky Balboa, também conhecido por Sylvester Stallone? Aquela careta retorcida continua agradando a galera. Na terceira versão do filme, Mel Gibson faz o papel de um bandido que já foi mocinho. E se a franquia faturar milhões pode até voltar a ser mocinho na próxima fita. Ainda que morra neste filme, porque morreu no anterior e está aparecendo mais vivo que nunca. Ainda que um dos atores morra, porque os seus personagens continuarão por aí, mais vivos que nunca e sempre vai ter um “pancadão” para ocupar o lugar.

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O cinema dos últimos 40 anos produziu tanta gente para dar pancada, que um filme só é pouco para reunir todos eles. Tanto que nesta versão não encontramos três atores que estiveram na anterior: Bruce Willis, Van Damme e Chuck Norris. Mas eles estão lá se aquecendo no banco de reservas para entrar, quem sabe, na próxima etapa. Ao contrário da vida real em que não é fácil envelhecer e um asilo ou uma cama é o que espera o idoso, no cinema sempre há espaço para aquele algo mais. No cinema os velhinhos ainda têm energia para serem mercenários e saírem por aí fazendo justiça com as próprias mãos. Os representantes do mal que se cuidem. Eles são velhos, mas não estão enferrujados. E vão baixar o cacete!