Todo sujeito que torce para time de futebol tem bronca de dirigente e técnico. Bronca do primeiro porque na ótica do torcedor, o sujeito sempre faz a coisa errada, quando não enterra o time com decisões equivocadas e ganha dinheiro por fora com vendas subfaturadas de jogadores. A bronca com o técnico é por conta da burrice: não existe técnico inteligente, como já observou Levir Culpi no título de seu livro “Um burro com sorte”: existe técnico com sorte, mas técnico inteligente não. Vida de técnico no Brasil é mais arriscada que a de funâmbulo. Com a diferença de que poucos funâmbulos caem. Os técnicos sempre caem.

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Eu concordo com o torcedor. Mas como Levir Culpi já tratou da questão do técnico em seu livro, eu vou falar do dirigente. Vida de dirigente de futebol não é fácil. O sujeito tem que ser mais esperto que a esperteza e ainda assim pode não dar certo porque no futebol sempre tem dois dirigentes atrás dos times que estão em campo: um deles vai perder e se empatar os dois estão ferrados. O que perder é incompetente. E o que ganhou também é, porque quem ganhou foi o time. Estou fazendo defesa do dirigente de futebol porque eu também fui dirigente de dois times de futebol. O primeiro foi o Mister de Futebol e Regatas, time de Maringá dos anos 60 que venceu todas as partidas em 1963, quando eu tinha apenas onze anos e fechou as portas no começo do ano seguinte.

A história do Mister é quase igual a de muitos grandes times de futebol: cheia de aventuras. Eu acho que o Mister tinha coisas originais. Por exemplo, o nome era original embora fruto de um equívoco. Eu andava pela Rua Antônio Salema em Maringá pensando que nome escolher para o time quando eu vi na calçada um maço vazio de cigarros. Olhei e gostei do nome: “O time vai se chamar Mister de Futebol e Regatas”. Primeiro equívoco: o nome do cigarro era Minister e não Mister. E, depois, aquele “regatas” entrou de gaiato porque eu achava bonito o Botafogo ser chamado de Futebol e Regatas. Eu nem sabia o que era regatas quando eu botei o nome no time.

Depois comecei a chamar gente de tudo que era lado para entrar no time, pessoas que não se conheciam. E todo mundo aceitou embora não tivesse campo, não tivesse jogo de camisas e nada. Tinha monte de gente no time que não treinava e também não jogava, embora eu sempre aparecesse dizendo que tinha jogado e vencido. Como o time era vencedor, os caras começaram a dizer que jogavam nele e alguns até mentiam dizendo que tinha jogado várias partidas, embora o time não tivesse feito nenhuma. Aquilo virou uma bola de neve, que ninguém jogava e todo mundo contava vantagem que eu comecei a morrer de medo de alguém descobrir a verdade e me dar um cacete por inventar um plantel vencedor. Resumo da resenha: chegou ao fim do ano e anunciei que vida de dirigente era muito difícil, cuidar de time de futebol era cansativo e estressante e fechei o time. Todo mundo lamentou porque houve poucos times tão bons na cidade quanto o Mister de Futebol e Regatas.

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A segunda vez que virei dirigente de time de futebol foi em Londrina quando cheguei à cidade para trabalhar na Folha de Londrina, onde havia um plantel vencedor chamado Foca. Então eu e o diagramador Roberto Marginal resolvemos fundar o nosso time, porque o Foca tinha mais jogadores que a Seleção Brasileira de 1966. Criamos o Calhau, time que no primeiro campeonato que participou decidiu o título, superando vários favoritos. Não venceu porque o nosso craque Maurício Borges resolveu fazer uma pescaria no sábado anterior ao dia da finalíssima e teve queimaduras de alguns graus – ele parecia um camarão em campo. E sem ele nos trinques nós levamos um tranco e perdemos a partida e o título por 2 a 1. Curiosamente, quando eu retornei para Maringá, o Foca morreu e o Calhau sobreviveu e se tornou uma equipe campeã com jogadores do naipe de Marrom Gouvêa, João Arruda, Rogério Pescador, Nelson Capucho, gente que batia um bolão. De longe morri de orgulho. Mas não tive saudade de ser dirigente.