Existem lugares para tomar gorós. Os mais indicados são os bares e a própria casa. Mas alguns sujeitos gostam de inventar e se dão mal. Foi o caso de Azulão, Pateta e Palitinho, três sujeitos que passaram dos cinquenta, uma idade em que deviam ter um pouco de juízo. Mas não tinham. Eles resolveram tomar uns gorós na noite de domingo encostados na mureta da ponte sobre o Rio Tupinambá, um rio que leva este nome porque já foi um rio, mas agora não passava de uma mistura de água poluída e esgoto a céu aberto. Qualquer um sabe que ponte não é lugar adequado para beber e depois eles podiam ser atropelados. Eles ignoraram tudo isto e ficaram bebendo e conversando em cima da ponte. Bebida em demasia deixa o sujeito sem noção. Foi o que aconteceu a Palitinho. Ele se animou e resolveu sentar sobre a mureta. Aquilo só podia dar em sujeira. 

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Palitinho perdeu o equilíbrio, abriu os braços e despencou lá embaixo. Pateta quando viu o amigo abrir as pernas em V e desabar no riacho imundo de cabeça para baixo simplesmente desmaiou. Ele caiu duro sobre a ponte. Azulão não sabia o que fazer e começou a gritar: “Socorro meu amigo está morrendo”. As pessoas um pouco distantes da ponte e que o viram gritar não deram importância porque sabiam que àquela altura, eles já estavam bêbados. Mas Azulão falava sério. Embora o riacho fosse raso, Palitinho caiu de cabeça na água e não conseguia se levantar. Estava se afogando num riacho cuja fundura não era maior que meio metro. Nesta altura do campeonato é conveniente explicar que não foi apenas a bebida que dificultava Palitinho deixar as águas sujas do Tupinambá. Acontece que ele sofreu um acidente na obra e a perna direita ficou estropiada. Palitinho capengava quando não usava muleta – daí o apelido Palitinho. Palitinho, na realidade, era a muleta.

Como Palitinho caiu e a muleta não foi junto, ele estava se afogando. Ele morreria afogado enquanto Azulão gritava erguendo os braços e Pateta permanecia desmaiado não fosse o comerciante Ari Caramelo passar pela ponte, parar e olhar para baixo e conferir que realmente havia alguém que tentava deixar o Tupinambá, mas não conseguia, voltando sempre ao fundo. O comerciante Ari Caramelo fez o que não fizeram Azulão até porque estava bêbado e Pateta muito menos porque permanecia desacordado sobre a ponte. Ari Caramelo desceu rapidamente pela encosta, entrou na água fétida e puxou Palitinho para fora do rio e o deixou estirado sobre a margem. Palitinho vomitou uma mistura de pinga com água poluída e esgoto e ficou ofegante sem forças para nada. E mesmo que tivesse forças, sem a muleta ele não conseguia andar em linha reta. Muito menos subir a encosta. Ele decidiu esperar para ver o que ia acontecer. De qualquer forma havia uma boa notícia: ele não iria mais morrer afogado no Tupinambá.

Ari Caramelo voltou para a ponte, pegou o celular e avisou o Corpo de Bombeiros. A esta altura Pateta acordou e a primeira coisa que disse, enquanto agarrava Azulão, foi: “Precisamos salvar Palitinho”. Azulão ficou uma fera: “Isto são horas de desmaiar seu cara de pau. Nosso amigo morrendo e você desmaiando”. Os dois começaram a brigar, foram para os lados da mureta e por pouco eles também não caíram lá embaixo. Ari Caramelo botou ordem naquilo: “Ou parem com isso ou eu chamo a polícia”. Azulão e Pateta acharam melhor parar com a briga. Foi então que Pateta olhou para baixo e viu Palitinho encostado na margem do Tupinambá. Ele perguntou: “Você está vivo Palitinho?”. Palitinho fez um movimento com a cabeça, porque não tinha fôlego e estava mais uma vez com vontade de vomitar. Coisa que fez poucos minutos depois.

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Ari Caramelo esperou o Corpo de Bombeiros chegar. E depois foi embora. O Corpo de Bombeiros levou os três para o Hospital do Trabalhador. De todos, Palitinho era o que estava melhor, porque vomitou tudo que tinha bebido. Azulão e Pateta tiveram que tomar remédios para curar a bebedeira. No dia seguinte os três deixaram o hospital meio assustados. E com uma ideia fixa. Nunca mais iam encher a caveira em cima de uma ponte.