As pessoas viam Odete com Ernesto e pensavam que o cara estava com a melhor senhora da cidade. Quarenta anos, dois filhos, bem de vida e linda. Ela parecia não envelhecer. Odete era enxuta, divorciada de José Rodrigo Mafra. A história começa justamente aí, em 2010. José Rodrigo achou que a vida de casado estava sem graça, se engraçou com Margot, ninfeta de 16 anos. Ele divorciou de Odete e foi viver um idílio louco com a menina em Camboriú. Em menos de um ano a garota fez com ele o que uma manada de búfalos faz com um pasto verde: deixou o cara sem nada e caiu fora. Hoje José Rodrigo ganha a vida vendendo motocicletas, profissão decente, mas mixaria para quem foi rico e casado com uma dona de primeira. Odete ficou amiga de Ernesto. A princípio o cara achou que tirou na loteria. Nada. Era amizade. Ela disse que depois da decepção do casamento não queria nada com ninguém. E levava a sério.

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Olhar frio de Greta Garbo e melancólico de Grace Kelly era muro de três metros para Ernesto. Que de bom só levava a fama de ser o cara de Odete. Coisa que não era. Quando tentava algo, como alguém dá pulos para escalar o muro alto, ela dizia: “Eu nunca mais vou sofrer por ninguém, querido”. Ele não forçava a barra para não perder a amizade. Estar com ela podia não ser muito, mas era alguma coisa. Um dia, entretanto, ele se animou. Ela o convidou para jantar, depois de dizer: “Tenho uma coisa importante para te falar”. Ernesto foi ao Mueller comprar roupa nova. No jantar, Odete estava radiante. O ambiente era acolhedor. O vinho perfeito. Odete pegou as mãos dele entre as suas. O coração de Ernesto disparou. Ela baixou os olhos e disse: “Pode uma mulher, vamos dizer assim, madura, se apaixonar perdidamente? A ponto de cometer uma loucura?”.

Se dissesse mais uma frase, o coração do cara arrebentava. Ele não ia aguentar. Odete olhou. Esperava resposta. O que diria? Qualquer bobagem acabava com a magia. A voz de Ernesto saiu rouca: “Sabe, querida, não existe idade para se apaixonar. Todas as idades são as idades da paixão”. Foi o que ocorreu. E achou que não se comprometeu. Agora era esperar. Odete sorriu e disse: “Querido, por incrível que pareça, acho que você tem razão. Estou sofrendo por isso”. Se o céu se abrisse e milhões de anjos decretassem o fim do mundo ao som de Aleluia de Haendel, Ernesto não ficaria tão tocado. Odete contou. O pai dela, Evandro Capellozi, era paulista dono de terras no Mato Grosso do Sul. Estava com 85 anos. Era magro, alto, usava chapéu. Quem o visse pensava que era inglês. Quando Ernesto o viu a primeira vez, julgou tratar-se de irmão gêmeo de Samuel Beckett.

A mãe de Odete, Isadora, carioca, 60 anos, resolveu fazer curso de direito aos 55 anos. O casal foi feliz durante muito tempo. Mas não todo o tempo. O curso de direito foi tentativa de Isadora vencer o tédio. Ela ficou fascinada. No penúltimo ano do curso foi ao Rio de Janeiro e casualmente encontrou Leleco, como era conhecido Genêris Nascimento, barbeiro na Lapa. Odete não sabe o que Leleco aprontou com a mãe dela, mas o certo é que Isadora voltou da viagem apaixonada. “Minha mãe está gamada por um barbeiro de 65 anos, que foi o seu primeiro namorado e agora pediu divorcio de meu pai e vai morar no Rio. Pior, meu pai, com 85 anos, está triste e chora”, disse Odete. “Ele passa o dia inteiro ouvindo Jovem Guarda. Eu não aguento mais ouvir Antônio Marcos cantar todo amor que eu lhe dei você nem ligou, todo bem que eu lhe fiz você desprezou”, disse exasperada.

Se um cometa apocalíptico caísse na cabeça de Ernesto, ele não ficaria mais arrasado e destruído. A velha apaixonada era a mãe de Odete. E a bela não tinha a quem contar o drama familiar. Contou para ele. Ela sofria com a dissolução da única unidade familiar ao redor que permaneceu intacta. E ele querendo apenas ser o Leleco da vida de Odete. Ernesto olhou o terno Vila Romana, a camisa de 250 reais e se sentiu um perfeito idiota. Sentiu raiva de si mesmo. Ainda assim dissimulou e disse palavras amáveis para Odete, consolou-a. Afinal, ficar perto era a única coisa que restava. Mas na verdade ele sabia que todos est,avam sozinhos.

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