Vai ter Copa no Brasil! E começa hoje. Com a partida entre Brasil e Croácia. Se o Brasil não deu boa demonstração de organização e pisou na bola com protestos violentos no ano passado, cujo preço foi pago por comerciantes indefesos e inocentes que não tinham nada com isso e foram saqueados ou tiveram seus estabelecimentos destruídos por vândalos, os novos revolucionários deste mundo caótico, os gringos que estão chegando para jogar bola estão dando show de simpatia. Tem até argentino posando de bacana o que muitos brasileiros julgavam ser impossível.

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A primeira que eu gostei de ouvir e que muita gente já sabe foi do camaronês Samuel Eto’o. Perguntaram na Praia do Canto em Vitória para ele quem era melhor jogador de futebol e o atacante não hesitou: “Melhor é o Obina”. O nosso Obina, que se tornou conhecido por devorar montanhas de comida e ficar gordo, por ter o nome gritado pela torcida do Flamengo (“Obina é melhor que Eto’o”, quando este era um dos melhores do mundo), o velho Obina que num jogo com a camisa do Palmeiras meteu três bolachas na rede do Corinthians, deve estar feliz. Eu ficaria. Simpatia do Eto’o para o simpático Obina. Outra bacana foi dos jogadores da Espanha: abro a rede social e encontro a amiga Elaine Felchacka fazendo selfie com quatro jogadores da Fúria.

E não para aí. O que dizer de Neuer e Schweinsteiger da Seleção da Alemanha no meio de uma rua em Salvador fazendo festa com a torcida do Bahia, cantando hino do tricolor e mais: com a camisa do Bahia. Acham que é pouco? Isso é fichinha perto do atacante Klose dançando com índios vestidos de índios e o craque com o uniforme de jogo de seu país para comemorar seus 36 anos. Os gringos estão dando um show de alegria e simpatia. E espero que isto seja apenas o começo. Eu que andava meio chateado com a Copa começo a me animar, não com o comportamento dos patrícios, mas dos gringos. Depois de tanta balbúrdia, acontece o milagre provocado pelo futebol. Que está apenas começando. Afinal de contas, era isto que o povo brasileiro queria com a Copa, aqui ou no Afeganistão: futebol, alegria e simpatia. E os caras estão dando show nos três quesitos.

Estou na torcida. Agora numa torcida diferente. Não para o Brasil ser campeão que não vai depender de meu futebol e de minha torcida, mas do futebol dos boleiros e das manhas do “professor Felipão”. Estou torcida para milhares de torcedores de outros países que vieram nos conhecer serem bem tratados, torço para que nada ruim aconteça, que todos cheguem e saiam felizes, que nos perdoem o triste espetáculo que demos na preparação da Copa, da histeria anti-Copa, nas obras atrasadas. Se tudo correr bem, sinceramente nem quero saber quem vai ser campeão. Quero mesmo, depois de tudo que aconteceu, que entre mortos e feridos salvem-se todos.

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E o pessoal que protestou contra corrupção que não perca o gás. Continue cobrando o fim da corrupção no país, produto de nossos antepassados, do tempo de nossos pais e que ainda hoje pode ser encontrada pelo Brasil inteiro em governos de todos os níveis e partidos, incluindo o Judiciário. Continue. Continue porque ela não nasceu por ocasião desta Copa e não vai terminar facilmente. Ela está em todos os lugares. Talvez um dia ela diminua, porque acabar já seria um grande sonho. Por enquanto, agora, eu quero mesmo ver o show de simpatia de todas as nações e de todos os torcedores em nosso país. Vou torcer sem me estressar porque já me estressei demais nos últimos meses. E se for para ter um campeão que não seja o Brasil, a minha escolha recai sobre Portugal. Todo mundo ia gritar do mesmo jeito: “É campeão!”. Ou o pessoal da Holanda que tentou três vezes e ficou três vezes vice. Tá na hora de desencantar. E eles não tem frescura. Até jogaram frescobol na praia de Ipanema. Quer mais? Pelo jeito vai ter. Por isso eu digo que quem tem razão é o meu amigo Cahuê Miranda: “Tenho pena de quem não gosta de Copa do Mundo”.