Tá faltando um pouco do sangue de Vinnie Jones no futebol brasileiro

Negócio seguinte: no futebol brasileiro quem ganha dinheiro é empresário e craques tipo Neymar. Os clubes se ferram. Viraram chocadeiras, escolinhas de atletas que se forem bons vão para a Europa, Oriente Médio ou China. E se não forem ficam por aqui frustrados, enganando e irritando a torcida com futebol medíocre e sem raça. Por uns dólares a mais, por um punhado de dólares, não existe o bom, o mau e o feio: existe grana na mão. O torcedor brasileiro que se dane. Eu acho que para o futebol não desaparecer no Brasil é preciso mudar o conceito de jogador brasileiro. Ser mais vigoroso e menos talentoso, porque neste caso será vendido. Nós precisamos em nossos times de jogadores com um pouco de Vinnie Jones. Que botava o coração na ponta da chuteira. E que europeu não vai botar olho gordo.

Jones fez parte do Wimbledon, no fim dos anos 80. Era um bando louco. Tanto que o time se chamava Crazy Gang e intimidava adversários e companheiros. Para eles fair play era frescura, que ninguém vai ao campo para ver fair play. O time maltratava a bola e quem estivesse perto. Dois jogadores foram ícones desde bando: John Fashanu, faixa preta em caratê e Vinnie Jones, que virou astro em Hollywood e fez um filme chamado “Porcos e Dementes”. Eles vestiam a camisa do clube. Para “incentivar” os companheiros a dupla trancava parceiros no porta-malas do carro ou os arrastavam pela neve presos ao carro. “Também deixamos jogadores sem comer por dois dias. Eles sentavam à mesa, mas não podiam comer”, disse Fashanu. Os caras ganhavam ou não comiam.

Claro que às vezes exageravam. Inconformado com Lawrie Sanches numa partida, Fashanu durante o intervalo o jogou no chão vestiário como boneca de pano. Bancos de madeira foram quebrados e o cara tomou 30 pontos na perna. Com tanta garra, o time passou por cima do Liverpool em Wembley e conquistou a Copa da Inglaterra em 1988. Com gol de Lawrie Sanchez. Que ficou seis anos sem falar com Fashanu. Ficou famosa a cena em que numa jogada Vinnie Jones esmagou com as mãos os testículos de Paul Gascoigne. Os caras eram feras. Não defendo a violência para o futebol brasileiro, como Fashanu que fraturou a cavidade ocular de um cara do Tottenham ou Vinnie Jones que encerrou a carreira do zagueiro Gary Stevens. Mas já que o talento vai embora, precisamos de algo para tirar o nosso futebol da mediocridade e animar o torcedor. Craques são produtos exportação. Combatividade foi o que restou para vermos nos estádios. Sem isso, acabou.