Será que ninguém reparou que o belvedere está abandonado?

Choveu tanto no fim de semana que eu me lembrei de uma música dos Mutantes cujo título é candidato ao mais longo da música brasileira do século 20: “Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o rock and roll”. E o que tem esta música com a chuva? Alguma coisa. Ela tem um refrão lá pelas tantas que é o seguinte: “Domingo de manhã, saí pra caçar rã, foi quando à minha frente, apareceu a sua irmã, que sarro!” Escrito e sem melodia, naturalmente, não tem graça, mas ouvindo é muito bacana, principalmente para quem gosta do tal do rock and roll. Domingo de manhã, quando tem chuva e nos outros dias também quando chove, aparecem rãs nas proximidades do Rio Belém. Elas ficam perdidas, que sarro!

Mas nem a chuva e nem as rãs me impediram de dar um pulo na Feira do Largo da Ordem. Fui com o propósito de comer umas empanadas argentinas na barraca do Edson, que não é argentino, mas é gente fina do mesmo jeito. Chegando lá o rapaz não estava. A feira não estava animada porque estava molhada. Eu fui para a redação aprontar um material pendente e ao conferir o e-mail encontrei um recado de Dimitri Stoichkov, que é búlgaro, bravo e bocudo e tem uma barraca no Largo da Ordem. Ele estava prostituto da vida. Por causa de uma cena na praça que fica perto da Sociedade Garibaldi. Ele deu de cara com um acinte contra o patrimônio público e histórico, seja em dias de sol ou em dias de chuva.

O belvedere que alguns chamam de mirante, outros de coreto, alguns de casinha, enfim, o local que já abrigou transmissões da primeira emissora de rádio de Curitiba, a Rádio Clube Paranaense, também conhecida pelo famoso prefixo PRB2, está num estado lastimável. Ou seja, aquele local que fica também próximo das ruínas de São Francisco, também entrou na onda e está em ruínas. Stoichkov disse: “Curitiba já teve cartões postais e ordem!”. Isto é sinal de que ele está brabo. E não alivia: “Um ponto turístico fotografado por muitos turistas que vem à Feira do Largo da Ordem e é levado ao mundo. Mostra o desrespeito ao patrimônio publico e a história do município. Acho que alguém deve fazer algo, porque o estado e deplorável, o local esta fedendo e abriga usuários de drogas e outros que é melhor não comentar!”.

Claro que este tipo de cobrança irrita os homens públicos. Os homens públicos tem o péssimo hábito de pedir votos com caras de bonzinhos na hora da eleição, mas na hora da cobrança eles viram o bicho do avesso. Eu lembro que participei de um programa de televisão há alguns meses e disse para um cidadão que hoje ocupa importante função pública, que ele tinha uma biografia ímpar e deveria honrar esta biografia no cargo que atualmente ocupa. Porque a cidade precisava de cuidados que não estavam sendo tomados há anos. Ele bufou, ficou fera e saiu como tivesse visto o capeta sem roupa de baixo. Claro que existe a falta de recursos, mas muita coisa depende mais de carinho, bom entendimento entre partes envolvidas, do que de muito dinheiro. É necessária uma dose adicional de carinho com a cidade e com a coisa pública.

Se for deixar abandonado o coreto, belvedere ou que nome o cidadão queira dar para aquele pequeno exemplo de edificação que existe há décadas na cidade, seria mais honesto declarar que a intenção é deixar a coisa apodrecer para depois demolir e ponto final. Deixar do jeito que está não é correto com o coreto. Fica uma chaga exposta, como certificado de falta de sensibilidade do poder público com a cidade e o cidadão. Agora, quando houver eleições, e elas sempre aparecem para perpetuar uns tipos insensíveis à frente da administração pública, que se assuma a falta de sensibilidade e não tripudie com teorias e lorotas que não são colocadas em prática. Meu amigo búlgaro está cheio de razão. Esse negócio de que existe demanda entre quem é dono da criança se é o pai ou a mãe, se é o município ou o estado, isto aí é conversa para boi dormir. Porque, se for assim, que a,mbos vão para casa e entregue a cadeira e a caneta para quem esteja disposto a fazer alguma coisa decente pela cidade.