Brasil e Holanda fizeram quatro jogos válidos pela Copa do Mundo. Em cada um destes jogos, o vencedor foi parar na final: o Brasil ganhou em 1994 e foi vice em 1998. A Holanda foi vice em 1974 e vice em 2010. Como valia vaga na final, todos os jogos foram emocionantes. Eu vi todos pela televisão. O primeiro em 1974 eu vi com a sensação de que a retranca de Zagallo não ia parar a Laranja Mecânica que espremeu todos os adversários, menos na final. Como de fato não parou. Aquele time de Cruyff, Neeskens & Cia era simplesmente fantástico. Mas não ganhou a Copa, porque a Alemanha tinha o imperador, Franz Beckenbauer.

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Os dois times ficaram bom tempo sem se encontrar numa Copa – vinte anos. Em 1994, no dia 9 de julho, em Dallas, no Texas, Brasil e Holanda fizeram um dos melhores e mais sensacionais jogos daquela Copa nos Estados Unidos. Eram quartas-de-final. O Brasil abriu 2 a 0, parecia que a fatura estava liquidada, quando a Holanda empatou e a maionese estragou. Aí aconteceu aquilo: Branco fez falta, que o juiz marcou para o Brasil. O mesmo Branco cobrou – um canhão Krupp de 88 milímetros na direção do goleiro De Goej. Aos 36 minutos do segundo tempo. A bola entrou com a ajuda de Romário que quando viu o torpedo em sua direção, moveu o corpo para frente e a bola passou tirando faísca de suas costas. O Brasil ganhou ali aquela Copa.

Outro embate sensacional aconteceu quatro anos depois na França. No dia 7 de julho de 1998 a partida válida pelas semifinais terminou empatada em um gol. Ronaldo abriu o marcador no começo do segundo tempo e Kluivert empatou no final da partida, quando faltavam três minutos para acabar. Vieram os pênaltis. Taffarel pegou dois. O Brasil eliminou os holandeses por 4 a 2 nas penalidades e se classificou para disputar o título com a França. O resto todo mundo sabe. No dia 2 de julho de 2010, a quarta partida entre Brasil e Holanda numa Copa do Mundo. O Brasil começou mandando no jogo, abriu o marcador com Robinho logo aos 10 minutos, teve chance de ampliar, teve pênalti em Kaká não marcado. Mas aí Felipe Melo endoidou de vez, Júlio César levou um gol que não podia levar, o Brasil se descontrolou e a Holanda fez 2 a 1 e foi parar na final.

Todos estes quatro jogos foram memoráveis – antológicos – e honraram a tradição das duas seleções. Se os recordo hoje, é porque todos foram antecedidos de grandes expectativas e entraram para a história. Hoje as duas seleções voltam a se encontrar no estádio Mané Garrincha em Brasília para disputar o terceiro lugar. Uma posição tão honrosa que o técnico Van Gaal declarou que não fazia questão dela. Para ele, nem deveria haver partida. Para os holandeses, será “cumprir tabela” e cair fora depois que o jogo terminar. Pegar o avião encerrar a participação na Copa do Mundo. A Holanda chega para a partida depois de uma disputa renhida com a Argentina, finalista, decidida nos pênaltis. E o Brasil?

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Este jogo melancólico e com cara de ressaca tem um atrativo. Um estranho e assustador atrativo. A humilhada Seleção Brasileira levou um chocolate da Alemanha – foram 7 a 1, mas poderia ser mais se os alemães não tirassem o pé do acelerador, não mandassem alguns craques descansar e não ficassem tão assustados com a facilidade e também temerosos de provocar demais a vítima. E agora? A Seleção do Brasil vai levar outro chocolate? Tem gente falando que o jogo contra a Alemanha foi acidente de percurso. Conversa de quem quer se enganar: o Brasil vem jogando mal desde o começo da Copa. O Brasil não tem ataque, tem meio campo desarrumado e tem buracos na defesa. Claro que se os holandeses ficarem parados, esperando o ponteiro do relógio passar, pode não acontecer nada. Mas se eles resolverem jogar bola, o Brasil corre hoje o risco de levar mais um cacete histórico. E o que era acidente de percurso, poder dar impressão de que repentinamente assumimos vocação para saco de pancadas. Pode parecer que não, mas isto cria uma expectativa para esta partida. A mesma expectativa que a gente tem quando vai ver um filme de terror.