Sempre o diabo do ciúme

Se estivéssemos em outro país qualquer das Oropas, onde são destinadas sete mulheres para cada homem, por certo não teríamos ensejo de deliciar os nossos leitores com pratinho tão saboroso. Tudo aconteceu por ciúme. Ciúme, sempre o diabo do ciúme, faz com que hoje nos ocupemos de um caso pouco comum entre nós e que o denominaremos de “O caso da polaquinha que ficou sem a farinha”. Era por volta das 17h30 do dia 13 de abril quando a simpática e avantajada Polaquinha caminhava pela Rua Ratcliff em direção à casa de seus patrões, sobraçando um pequeno volume. Uma senhora casada de nome Efigênia Levoratto se achava a esta hora à janela e reconheceu a sua misteriosa rival na personagem que passava.

Era ela que de tempos em tempos a esta parte de sua vida ocupava o cérebro de seu marido Dalvino com fantasias e ilusões, fazendo-o esquecer de seus deveres de esposo. Ao vê-la ali tão próxima, Efigênia arquitetou uma vingança. Sem perda de tempo, a casadinha deu um salto pela janela, galgou o meio da rua e uma vez na frente da bonita polaquita, vibrou-lhe no rosto uma tremenda bofetada daquelas de acachapar. A agredida não tendo outro meio de resposta ao ataque, arremessou contra a agressora gratuita o pacote que levava consigo que não era nada mais nada menos que dois quilos de farinha de mandioca. E feito o ataque seguido de contra-ataque, as duas passaram à natural atracação capilar, com solavancos e puxões, gemidos e ofensas ao fim dos quais cada uma estava com uma regular quantidade de cabelos da outra nas mãos.

A coisa no auge servia de recreio e passatempo para enorme onda de curiosos que se divertiam a valer, alguns incentivando uma e outros incentivando outra, com o intuito de manter aquecida a peleja. Ela certamente se alongaria não fosse a providencial aparição de um sargento do Regimento de Segurança, que acalmou os ânimos e serenou as contendoras. E assim terminou o escandaloso espetáculo pouco comum em nossa urbe e que o terrível ciúme provocara. A casadinha Efigênia entrou para a sua casa envergonhada, prometendo não mais cometer tais desatinos enquanto a Polaquinha caminhou para a casa de seus patrões sem o pacote de farinha, arrependida de tomar aquele caminho. (Caso real acontecido em Curitiba em abril de 1915)