A namorada de um amigo adora Vinicius de Moraes. As mulheres sempre gostaram do poetinha. Antes de Chico Buarque aparecer na parada, Vinicius já conhecia o id feminino. Por isso, talvez, Leninha e muitas outras gostem dele. No entanto, Bruno invoca porque Leninha todo fim de semana repete versos do poema “O Dia da Criação”, no qual Vinicius enfatiza: “Porque hoje é sábado”.
Ainda diz o poema: “Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas, todos os maridos estão funcionando regularmente, todas as mulheres estão atentas, porque hoje é sábado”. Hoje é sábado e amanhã é domingo. Ouvir uma vez é bacana, mas toda semana deixou Bruno irritado. “Parece que só existe sábado na semana. Ninguém mais homenageia os outros dias”.
Foi aí que contestei. Todos os dias da semana são homenageados como no inglês, que cada dia homenageia uma divindade. E recordei para ele. Começando por sexta-feira. Sexta-feira é nome de personagem do romance Robinson Crusoé, de Daniel Defoe. Sábado já foi mencionado. E domingo tem o filme “Nunca aos domingos”, com Melina Mercouri.
Mas gosto mesmo da música “Manhã de domingo” na voz de Nico, da banda Velvet Underground. Ela começa com belo verso: “Manhã de domingo, louve o amanhecer”. Nico era uma linda alemã. Segunda-feira tem outra música dos anos 60, sucesso com The Mamas & Papas: “Monday, Monday”, hino da contracultura. “Segunda-feira, segunda-feira, não se pode confiar nesse dia”, diz a letra.
Outro hino dos anos 60 homenageia terça-feira. “Ruby Tuesday”, sucesso dos Rolling Stones, escrita por Keith Richards num quarto de hotel de Los Angeles. Como esquecer estes versos: “Goodbye, Ruby Tuesday. Who could hang a name on you?”. E quarta-feira que parece dia feito para não receber homenagem ganhou um belo poema de T. S. Eliot, um dos maiores do século 20, chamado “Quarta-feira de cinzas”.
Neste poema podemos ler versos como este: “Porque não mais espero conhecer a vacilante glória da hora positiva”. De arrepiar. Quanto à quinta-feira, há o célebre livro de escritor pouco apreciado hoje em dia: G. K. Chesterton. Ele escreveu “O homem que era quinta-feira”, considerado “um thriller metafísico ou um pesadelo teológico”, embora possa ser nem uma coisa, nem outra. De qualquer forma é um grande livro. Portanto, não dá para reclamar.
Quem quiser ouvir a música “Sunday Morning (Manhã de domingo)”, com Nico e o Velvet Underground pode acessar o link abaixo: